De todos os seis indicados ao Oscar de Melhor Filme
que já foram abordados aqui (“Até o Último Homem”, “A Chegada”, “A Qualquer Custo”, “La La Land: Cantando Estações”, “Manchester À Beira-Mar” e este), “Um
Limite Entre Nós” é o mais “incomum”, e uma ótima experiência:
Um
Limite Entre Nós (Fences)
é dirigido por Denzel Washington e
escrito por August Wilson e é baseado
em sua peça teatral homônima. É estrelado pelo próprio Denzel Washington ao
lado de Viola Davis. O filme recebe
4 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor ator principal, melhor atriz
coadjuvante e melhor roteiro adaptado.
O longa conta a história de Troy Maxson, um jogador de baseball fracassado que agora precisa
trabalhar como lixeiro para poder sobreviver.
“Um Limite Entre Nós” é um longa curioso. Os rumores
dizem que a obra — adaptada da peça teatral homônima da Brodway, escrita pela
mesma pessoa, em 1983 — foi por um bom tempo considerada “infilmável”, e não é
difícil de se entender o motivo. Não existem cenas de ação ou até mesmo cenas
empolgantes ou de tensão, no caso. O longa trata única e exclusivamente da
família Maxson e é composto de loooooongas sequências de conversas e
discussões. O que é algo interessante de se dizer sobre um filme, sobre ele ser
“infilmável porque só tem conversa”. De fato, boa parte do público geral não
vai se interessar pela obra. Não estamos tratando de um blockbuster bilionário.
Mas entre os grandes filmes da história não faltam nomes que seguem exatamente
essa fórmula de longos diálogos em poucas localidades. Os exemplos são muitos: “Cães
de Aluguel” (Reservoir Dogs, 1992), “12 Homens e Uma Sentença” (12 Angry Men,
1957) ou até mesmo “Rashomon” (Rashomon, 1950).
Na verdade, os outro dois principais motivos para
você assistir “Fences”, além do roteiro maravilhoso, são as atuações
espetaculares de Denzel Washington e Viola Davis. Assim como “Manchester À
Beira-Mar”, por exemplo, este longa também chega a “não parecer um filme” em
alguns momentos. É tudo tão real, interpretado tão magistralmente por
Washington e Davis que você se sente apenas como uma pessoa ouvindo a discussão
de uma família de verdade. E é aí que reside o show da obra.
O personagem de Denzel é o mais fascinante: um homem
bastante amargo e frustrado, nos é apresentado inicialmente como um cara legal,
um pai de família. Um homem comum que trabalha duro para por comida na mesa e
um teto sobre a mulher e os filhos. Você já gosta dele antes mesmo que ele precise
falar uma segunda frase. Mas é ao longo da trama que são apresentados pequenos
vislumbres de seu verdadeiro eu, e nós aprendemos um pouco mais sobre seu
passado. Temos essas longas sequências de conversas que não são mais de que papo
de bar, mas alguém diz algo errado, ou o filho de Troy lhe olha de uma maneira
diferente e ele simplesmente se transforma numa pessoa completamente. Uma
pessoa ruim.
E Washington interpreta o personagem de uma maneira
tão fluída, tão natural, com trejeitos e maneirismos que parecem coisas mínimas
mas que trazem todo o realismo necessário para a cena. Em um dos melhores
momentos do longa, Troy fala um pouco sobre seu relacionamento com seu pai, e
não existe no mundo outra pessoa que poderia ter entregado esse monólogo como o
ator. Davis também não fica para trás, em outro grande momento que retrata uma
discussão entre ela e o marido. De todos os nomes que estão concorrendo aos
prêmios de melhor ator principal e melhor atriz coadjuvante, esses dois parecem
ter as melhores chances.
A direção de Washington também não é algo para se
falar mal. Ela não é chamativa, mas faz seu trabalho muito bem. Junto da
diretora de fotografia Charlotte Bruus
Christensen, Denzel faz um ótimo trabalho com os enquadramentos, por
exemplo, nas cenas, transmitindo bem a mensagem necessária, como em um plano
meio cluastrofóbico durante a discussão fascinante de Davis e o ator.
Ainda assim, há um momento, durante o terceiro ato,
em que a trama toma um rumo bastante enfadonho e clichê, o que provoca aquela característica
reação do “aaah, sério?”.
No fim das contas, “Um Limite Entre Nós” é uma ótima
experiência, carregada por um grande roteiro e atuações fantásticas. Mesmo com
o deslize por volta do terceiro ato, ainda é um belo filme.
AVALIAÇÃO: 4.5/5
"Excelente" |
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