Voltando definitivamente ao nosso especial de críticas
de filmes indicados ao Oscars 2017, vamos falar de outro longa que foi indicado
ao prêmio de Melhor Filme e outro longa que mostra como a premiação deste ano
está incrível:
Manchester
À Beira-Mar (Manchester
By The Sea) é escrito e dirigido por Kenneth
Lonergan e estrelado por Casey
Affleck, Lucas Hedges, Michelle Williams, Kyle Chandler e Matthew
Broderick. O longa recebeu 6 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor
diretor, melhor ator, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante e
melhor roteiro original.
“Manchester” conta a história de Lee Chandler (Casey Affleck), um zelador
antissocial que vive em Boston que recebe a terrível notícia da morte de seu
irmão e precisa viajar para Manchester para lidar com a característica
burocracia após a morte de um membro da família. Para sua surpresa, Lee pode possivelmente
receber a guarda de seu sobrinho, algo impensável para ele, que tem um passado
extremamente conturbado.
O texto de Lonergan toca em assuntos um tanto
delicados, como como é possível uma pessoa viver consigo mesma após um ato
terrível, perdão próprio e etc. Lee é uma pessoa bastante amarga, e por um bom
tempo você vai se pega se perguntando “por que é que eu deveria simpatizar com
esse cara? Ele é um puta cuzão”, até porque, de tal forma, “Manchester” parece
um pouco bagunçado de início. Apenas depois de passados a sua primeira meia
hora que todo um novo espectro lhe será apresentado, e tudo começa a se
encaixar perfeitamente.
O longa não segue uma forma linear de relatar os acontecimentos,
então é comum você sentir um pouco perdido e demorar algumas cenas para
perceber que você assistindo a um flashback e não acontecimentos do presente,
mas tudo isso é apenas uma questão de tempo até você se acostumar com as dicas
visuais que o filme dá em relação ao tempo em que se passam essas cenas e as
cenas do presente. Isso é algo muito bacana de ser ver em um filme nos dias de
hoje. Numa era em que vários longas fazem de tudo para entregar a trama à
audiênca toda “mastigadinha” (seja pelo motivo que for) — uma tática um tanto
desrespeitosa para garantir que você entenda tudo, sem lhe dar o menor espaço
para pensar por si mesmo — é muito você assistir a algo que respeita sua inteligência,
permitindo que você mesmo note elementos-chave ao longo da trama e “ligue os
pontos” como, por exemplo, o motivo de tantas pessoas na cidade Manchester
sempre se referirem ao protagonista como “aquele Lee”.
“Manchester” provavelmente não é o filme mais fácil de
se assistir. Garantido, não estamos falando de nenhum “Killer Joe: Matador de Aluguel”
(Killer Joe, 2011), mas “Manchester” tem seus próprios meios de se tornar uma
experiência difícil. Todo o longa é uma viagem emocional, sustentado por
atuações im-pe-cá-veis de todo o elenco. Por muitas vezes, você pode até achar
está assistindo à uma conversa entre pessoas na rua, num dia comum. Realmente
não é à toa que, das seis indicações à premiação, três são apenas por atuação.
Casey Affleck, por exemplo, merecidamente indicado por seu trabalho no papel
principal, dá a melhor atuação de sua carreira desde “Medo da Verdade” (Gone
Baby Gone, 2007 — um ótimo e infelizmente desconhecido longa dirigido por seu
irmão, Ben Affleck).
No fim das contas, “Manchester À Beira-Mar” é um
excelente filme, altamente contemplativo e que toma seu próprio tempo em suas
resoluções — o que pode acabar afastando uma parte do grande público —, uma
viagem emocional carregada por atuações estelares e um roteiro e direção
maravilhosos que se completam. Mesmo com poucos problemas no início, o longa
ainda é uma ótima pedida.
AVALIAÇÃO: 4.5/5
"Excelente" |
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