sábado, 4 de fevereiro de 2017

Manchester À Beira-Mar | A excelente contemplação de Kenneth Lonergan. (Crítica — Especial Oscars 2017)

Voltando definitivamente ao nosso especial de críticas de filmes indicados ao Oscars 2017, vamos falar de outro longa que foi indicado ao prêmio de Melhor Filme e outro longa que mostra como a premiação deste ano está incrível:





Manchester À Beira-Mar (Manchester By The Sea) é escrito e dirigido por Kenneth Lonergan e estrelado por Casey Affleck, Lucas Hedges, Michelle Williams, Kyle Chandler e Matthew Broderick. O longa recebeu 6 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor ator, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro original.

“Manchester” conta a história de Lee Chandler (Casey Affleck), um zelador antissocial que vive em Boston que recebe a terrível notícia da morte de seu irmão e precisa viajar para Manchester para lidar com a característica burocracia após a morte de um membro da família. Para sua surpresa, Lee pode possivelmente receber a guarda de seu sobrinho, algo impensável para ele, que tem um passado extremamente conturbado.

O texto de Lonergan toca em assuntos um tanto delicados, como como é possível uma pessoa viver consigo mesma após um ato terrível, perdão próprio e etc. Lee é uma pessoa bastante amarga, e por um bom tempo você vai se pega se perguntando “por que é que eu deveria simpatizar com esse cara? Ele é um puta cuzão”, até porque, de tal forma, “Manchester” parece um pouco bagunçado de início. Apenas depois de passados a sua primeira meia hora que todo um novo espectro lhe será apresentado, e tudo começa a se encaixar perfeitamente. 

O longa não segue uma forma linear de relatar os acontecimentos, então é comum você sentir um pouco perdido e demorar algumas cenas para perceber que você assistindo a um flashback e não acontecimentos do presente, mas tudo isso é apenas uma questão de tempo até você se acostumar com as dicas visuais que o filme dá em relação ao tempo em que se passam essas cenas e as cenas do presente. Isso é algo muito bacana de ser ver em um filme nos dias de hoje. Numa era em que vários longas fazem de tudo para entregar a trama à audiênca toda “mastigadinha” (seja pelo motivo que for) — uma tática um tanto desrespeitosa para garantir que você entenda tudo, sem lhe dar o menor espaço para pensar por si mesmo — é muito você assistir a algo que respeita sua inteligência, permitindo que você mesmo note elementos-chave ao longo da trama e “ligue os pontos” como, por exemplo, o motivo de tantas pessoas na cidade Manchester sempre se referirem ao protagonista como “aquele Lee”.




“Manchester” provavelmente não é o filme mais fácil de se assistir. Garantido, não estamos falando de nenhum “Killer Joe: Matador de Aluguel” (Killer Joe, 2011), mas “Manchester” tem seus próprios meios de se tornar uma experiência difícil. Todo o longa é uma viagem emocional, sustentado por atuações im-pe-cá-veis de todo o elenco. Por muitas vezes, você pode até achar está assistindo à uma conversa entre pessoas na rua, num dia comum. Realmente não é à toa que, das seis indicações à premiação, três são apenas por atuação. Casey Affleck, por exemplo, merecidamente indicado por seu trabalho no papel principal, dá a melhor atuação de sua carreira desde “Medo da Verdade” (Gone Baby Gone, 2007 — um ótimo e infelizmente desconhecido longa dirigido por seu irmão, Ben Affleck).

No fim das contas, “Manchester À Beira-Mar” é um excelente filme, altamente contemplativo e que toma seu próprio tempo em suas resoluções — o que pode acabar afastando uma parte do grande público —, uma viagem emocional carregada por atuações estelares e um roteiro e direção maravilhosos que se completam. Mesmo com poucos problemas no início, o longa ainda é uma ótima pedida.


AVALIAÇÃO: 4.5/5
"Excelente"

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