segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Até o Último Homem | Mel Gibson de volta à cadeira de diretor! (Crítica — Especial Oscars 2017)

Nós estamos de volta! YAAAAAY! O Titans Desatualizados passou por alguns problemas neste último ano, mas finalmente estamos de volta e com nenhuma vontade de parar tão cedo!


E, para celebrar esse retorno, vamos aproveitar que o Oscars 2017 já está logo ali e vamos falar, uma vez por dia, de alguns seletos filmes que foram indicados. Spoiler: a coisa tá muito boa.


Mas isso não vai ficar para amanhã, de jeito nenhum. Já vamos começar agora falando de “Até o Último Homem”, um dos NOVE (!!!) indicados na categoria principal: a de Melhor Filme.

Sem mais delongas, vamos lá:




Até o Último Homem (Hacksaw Ridge) é, inacreditavelmente, dirigido por Mel Gibson, escrito por Andrew Knight e Robert Schenkkan e estrelado por nomes como Andrew Garfield, Hugo Weaving, Vince Vaughn, Teresa Palmer, Sam Worthington e Luke Bracey. Além disso, o filme recebeu 6 indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor ator principal, melhor montagem, melhor edição de som e melhor mixagem de som.

Já faziam alguns bons anos desde que Mel Gibson apareceu pela última vez no centro dos holofotes. Fora as controvérsias e polêmicas sobre bebedeiras, abuso e racismo em que esteve envolvido na virada da década, seu último trabalho expressivo no cinema foi em 2010 no ótimo “O Fim da Escuridão”, de  Martin Campbell, onde viveu o detetive policial Thomas Craven que testemunha o assassinato de sua filha na porta de casa... enfim, eu divago. Mas, sério, assistam esse filme.
De qualquer maneira, Gibson teve sua volta gradual aos holofotes quando viveu o vilão em “Os Mercenários 3” em 2014 e, dois anos depois, no surpreendentemente bom “Herança de Sangue”, em 2016. Mas o maior destaque da sua carreira — possívelmente desde “Apocalypto” — foi, definitivamente, seu trabalho no comando de “Até o Último Homem”.

O filme, que se passa durante a 2ª Guerra Mundial, conta a (incrível) história real de Desmond Doss (vivido aqui por Andrew Garfield), um jovem extremamente religioso que decide se alistar no exército para atuar como um médico no campo de batalha. No entanto, Doss tem uma única condição: ele se recusa a sequer tocar numa arma. Nas suas próprias palavras, Desmond quer “salvar pessoas, não matá-las”.




A começar pela atuação, é até meio espantoso que apenas Andrew Garfield recebeu uma indicaçao ao Oscar. Não que ele tenha feito um trabalho ruim — longe disso — e sim porque todo mundo brilha aqui. Mas vamos por partes...

Garfield é ótimo como Doss. Ele é simplesmente muito agradável. Mesmo quando todo o mundo se mostra contra seu personagem de todas as maneiras possíveis, sua positividade que nunca é abalada chega a ser contagiante. Não é uma atuação escandalosa — na verdade não há nem um pouco de overacting por aqui —, é muito sutil. Doss é educado, doce e gentil e bastam alguns poucos segundo pra você começar a gostar dele. O total contrário de seu pai, Tom (Hugo Weaving), que é um homem extremamente perturbado, alcoólatra e abusivo com a esposa e filhos. É tão gratificante ver Weaving mostrando ao mundo um lado menos megalomaníaco de sua atuação. Quero dizer, nós conhecemos o homem há muito tempo por seus papeis como o Agente Smith, ou Elrond, ou V, ou o Caveira Vermelha, mas é no mínimo raro ver o cara trabalhando com um personagem tão diferente. E, mesmo ele sendo a pessoa ruim que ele é, também não é difícil simpatizar com ele. Tom Doss lutou na 1ª Guerra Mundial e viu todos os seus melhores amigos morrerem das piores maneiras possíveis. Receber a notícia de que seus filhos se alistaram pra entrarem num avião ou num barco e irem até outro continente apenas para morrer é deveras devastador. Esta é, provavelmente, a melhor atuação de toda a sua carreira.

Outros destaques também ficam para Vince Vaughn, que faz um ótimo (ÓTEMO) trabalho como um sargento que pega no pé de Doss e para Teresa Palmer, o interesse amoroso de Doss que também faz a melhor atuação de sua carreira. A ótima química entre ela e Garfield chega a lembrar o romance de Emma Stone com o ator em “O Espetacular Homem-Aranha”, mas com um filme muito melhor em volta deles. 




Mel Gibson dirige o filme com maestria. Quer uma prova? Ele conseguiu arrancar boas atuações de Sam Worthington e Luke Bracey! 2016 foi um ano surpreendente nesse aspecto (Jai Courtney, estou olhando pra você).

Falando na direção de Gibson, a sua habilidade para evocar boas atuações de atores não muito carismáticos não é o único destaque aqui. O filme é bem dividido entre os momentos antes da guerra e quando Doss finalmente pisa no campo de batalha. Na primeira metade do longa, Gibson comanda o filme e os seus atores muito bem, com longos takes onde nenhuma palavra precisa ser dita para que o sentimento necessário seja passado. 

Esses momentos até te fazem questionar se você está mesmo assistindo um filme do mesmo diretor de “Coração Valente” e “A Paixão de Cristo” porque, afinal de contas, violência é uma característica recorrente de seus filmes. Aliás, numa nota a parte, palmas para o diretor que conseguiu montar e sustentar o suspense muito bem. Você ouve e ouve falar de guerra mas ela não é vista tão cedo, mas quando finalmente chega, ela chega com tudo e todas as dúvidas são jogadas pela janela (violentamente). Numa transição sutil mas efetiva para uma edição mais energética, crua e fria, com muitos takes capturados com o equipamento nas mãos, as cenas que retratam a guerra extremamente realistas e muito bem realizadas. São aterrorizantes, o que contrasta muito bem com o personagem principal que é completamente contra a violência. Quando Doss finalmente chega à Europa, é como se ele tivesse enfim pisado em um filme de terror.




Se tenho alguns problemas com o longa, eles definitivamente são a computação gráfica que, em alguns momentos, se torna óbviamente falsa, alguns personagens com arcos incompletos e, principalmente, os últimos minutos do terceiro ato serem meio apressados de mais, quase como se o longa tivesse algo próximo de três horas originalmente e não os 140 minutos da versão que foi aos cinemas.

Mesmo com esses problemas, “Até o Último Homem” é um excelente filme de guerra, digno de estar no mesmo patamar de obras como “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg, e “Falcão Negro em Perigo”, de Ridley Scott. Com incríveis atuações e uma brutalidade extremamente efetiva em sua realização, este longa é um forte concorrente aos prêmios de Melhor Filme e Melhor Diretor, e é o definitivamente o melhor filme da carreira de Mel Gibson na cadeira de diretor desde quando o mundo foi surpreendido com “Coração Valente” que, na época, levou para casa cinco estatuetas: as duas anteriores e mais por de Melhor Edição de Som, categoria na qual “Até o Último Homem” também está disputando este ano. Fale o que quiser sobre o homem, ele definitivamente não é uma boa pessoa, mas os seus talentos como ator e, principalmente, como diretor são inegáveis. E, cara, como a falta dele foi sentida. Seja bem vindo de volta, Mel Gibson.


AVALIAÇÃO: 4.5/5
"Excelente"

Um comentário:

  1. Mel Gibson fez um ótimo trabalho dirigindo o filme. É interessante ver um filme que está baseado em fatos reais, acho que são as melhores historias, porque não necessita da ficção para fazer uma boa produção. Gostei muito de Até O Último Homem, não conhecia a história e realmente gostei. Na minha opinião foi um dos mehores filmes de drama que foi lançado. O filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. Vi este filme por que amo aos atores que participam nele. Eu sem dúvida verei novamente.

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