sábado, 16 de julho de 2016

Stranger Things | A carta de amor da Netflix para Spielberg, King e Carpenter. (Crítica Season 1)

Faz um bom tempo desde que eu escrevi algo sobre alguma série de TV aqui... é bom voltar a fazer isso, mas uma série como essa ajuda muito mais do que você pode imaginar.




Apostando cada vez mais em seu catálogo original para atrair uma audiência sempre maior, a Netflix estreou nesta sexta-feira (15/07, também conhecida como "ontem") sua mais nova série original, Stranger Things.

Com uma curta primeira temporada de oito episódios, Stranger Things foi criada pelos irmãos Ross e Matt Duffer. A série, que se passa nos anos '80, trata da história de um garoto, Will Byers (Noah Schnapp), que desaparece misteriosamente enquanto voltava para casa depois de uma longa partida de Dungeons & Dragons com seus amigos. Seu desaparecimento acaba coincidindo com o surgimento de uma estranha garota chamada Eleven (Millie Bobby Brown, favor não confundir com a artista britânica). Em uma busca por Will, seus amigos Michael (Finn Wolfhard), Lucas (Caleb McLaughlin) e Dustin (Gaten Matarazzo) são os responsáveis por encontrar Eleven e rapidamente descobrem que a garota, que mal fala e tem a cabeça raspada, possui habilidades sobre-humanas.

Ao mesmo tempo que os garotos procuram por seu amigo perdido, outros na pequena cidade de Hawkins fazem o mesmo. O xerife da cidade, Hopper (David Harbour), um homem amargo vindo da cidade grande que odeia seu novo trabalho, lidera uma busca por Will enquanto sua mãe, Joyce Byers (Winona Ryder) e seu irmão Jonathan Byers (Charlie Heaton) também organizam suas próprias buscas e tentam lidar com o trauma e se prepararem para o pior. Em meio as buscas, os personagens vão descobrindo coisas um tanto sinistras que vêm acontecendo em sua pequena e pacata cidade.




Desde o início você percebe que Stranger Things não é uma série comum, mas ao mesmo tempo em que ela passa a sensação de "familiaridade" ou de que "você está em casa". Se você está familiarizado com filmes como E.T.: O Extra-Terrestre, de Spielberg e, principalmente, Os Goonies (produzido por Spielberg), além dos trabalhos de John Carpenter, há muitas coisas que aqui que vão te prender logo do início, e qualquer pessoa que for velha o suficiente para relembrar de 1983 provavelmente vai se sentir em casa.

As semelhanças com os grandes nomes citados estão muito mais que claras e presentes em toda a temporada. A sensação que a série passa em todo o tempo em que as crianças estão em tela é completamente inspirada em Os Goonies, todos os momentos de tela de Eleven te forçam a traçar um paralelo com o E.T. de Spielberg (basta pensar na garota como se ela tivesse um dedo com a ponta brilhante e a caixa torácica mais aberta), a trilha sonora exala o estilo de John Carpenter e a inspiração nos trabalhos de horror de Stephen King está praticamente carimbada em toda a série. Ah, já disse que Stranger Things é uma série de terror? Pois é... e, embora tal elemento não esteja presente o tempo todo, quando chega seu momento ele se mostra bem efetivo.

Por trazer um elenco principalmente composto por crianças, é normal que se fique com um pé atrás, afinal de contas o que não faltam são exemplos de atuações péssimas em filmes e séries (sim, estou olhando pra você, Uma Noite de Crime). Na verdade, o que faltam são exemplos de boas atuações mirins e os filmes e séries que se enquadram nessa classificação fazem parte de um distinto e restrito "hall da fama".




No entanto, Stranger Things (felizmente) se encaixa com perfeição nesse "hall". A atuação dos meninos é ótima, completamente natural e a química entre eles é perfeita. Todas as crianças merecem os holofotes, mas destaco aqui a química entre Wolfhard e Brown. Esta última, inclusive, dá um show à parte... e não foram poucas as vezes em que eu me impressionei com o quanto sua personagem diz sem efetivamente entoar muitas palavras e maneira como a jovem atriz de apenas 12 anos consegue transmitir um misto de sofrimento e sabedoria e poder e vulnerabilidade ao mesmo tempo em que ela não passa de uma criança que quer apenas se sentir segura e amada é nada menos que impressionante.

É claro que o destaque não fica só nas crianças. Entre os "adolescentes" da trama, temos Charlie Heaton e Natalia Dyer (a irmã de Michael, Nancy). Em uma nota de rodapé, vale mencionar que Joe Keery (Steve) também não faz feio.

No fim de tudo, do lado dos adultos, o chefe de polícia de Harbour é bastante convincente, mas é na preocupada Joyce de Winona Ryder que vemos uma explosão de atuação na sua capacidade de não só transmitir a recorrente preocupação pelo seu filho como também toda a alegria que surge até na menor das possibilidades de encontrá-lo.




A direção contribuiu para a sensação oitentista e a "aura" de nostalgia que permeia os episódios. Os showrunners tiveram cuidado o suficiente para contar uma história fechada em poucos episódios e fazer com tudo mais se pareça um longo filme de quase sete horas do que um compilado desconexo de acontecimentos popular no formato "freak of the week". Aliás, a direção de fotografia é invejável, desde o trabalho com as câmeras, na "não-economia" de takes com planos satisfatóriamente longos (a média de duração dos planos não é muito pequena), até as ótimas escolhas na paleta de cores e algumas decisões mais "estilísticas" que até podem ter sido usadas (com sabedoria) para mascarar algumas limitações, como nos efeitos especiais.

A trilha sonora que tem John Carpenter escrito em todo lugar é todos os sinônimos de incrível. No início do primeiro episódio, há uma cena onde os garotos estão andando de bicicleta pelas ruas. Se essa cena, junto da trilha sonora, não te fizer sentir nada é provável que você não sinta nada mesmo... em nenhum momento da sua vida.

Como destacado na crítica da IGN, Stranger Things é uma perfeita carta de amor a Spielberg, King e Carpenter, trazendo a tona toda uma nostalgia e saudade da infância enquanto trata de conspirações governamentais e temas até um pouco sombrios, o que concede à produção uma identidade própria — negando as aparências de que ela fosse apenas uma homenagem aos mestres — e "força"para conseguir se sustentar nas próprias pernas.




Se você gostou de longas como Os Goonies e até mesmo o extremamente subestimado Super 8, de J. J. Abrams, as chances são de que a série vai te ganhar logo em seus primeiros minutos. E mesmo se gostar desses filmes não for o caso, dê uma chance à ela. Se serve de algo, leve em consideração a minha garantia de que Stranger Things é uma das melhores coisas que você vai assistir esse ano.

A Netflix acertou mais uma vez e Stranger Things não é "apenas mais uma série". Aos olhos deste que vos escreve ela é "algo a mais", portanto não deve se contentar "apenas" com a nota máxima... e, para produções assim, o Titans Desatualizados tem um "prêmio" especial. Você pode nos culpar?


AVALIAÇÃO: 6/5 — ESTRELA DE PLATINA!
"Obra-prima"

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