domingo, 24 de julho de 2016

A Lenda de Tarzan | E o Filho das Selvas volta mais uma vez aos cinemas. (Crítica)



Eu poderia começar essa crítica comentando como esse tipo de produção tá virando moda, afinal nós tivemos Mogli: O Menino Lobo no início do ano, mas não é o caso, na verdade.

Fato é que esse filme do Filho das Selvas já passou por muitas mãos antes de tomar a forma que tomou. O projeto já está em desenvolvimento desde 2003, quando John August escreveu a primeira versão do roteiro. Em 2008, no entanto, foi relatado que uma nova versão estava sendo escrita pelas mãos de Stephen Sommers e Stuart Beatle. Esta versão, inclusive, era dita como semelhante à franquia Piratas do Caribe. Foi só em 2011 que o filme que vemos no cinema começou a tomar forma, quando o roteiro foi passado para as mãos de Craig Brewer, que também estava cotado para a direção, junto de Susanna White e Gary Ross. Em abril de 2013, no entanto, foi anunciado que a produção havia sido temporariamente suspensa devido problemas com o orçamento.

Ainda assim, o projeto foi concluído e acabou chegando aos cinemas brasileiros nesse último dia 21/07 sob o nome de A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan), dirigido por David Yates e escrito por Adam Cozad e Craig Brewer e estrelado por grandes nomes como Samuel L. Jackson, Margot Robbie, Christoph Waltz e o relativamente desconhecido Alexander Skarsgård.




O longa se passa 10 anos após os acontecimentos originais de Tarzan (lembra do filme animado da Disney? Pois bem...). Agora atendendo sob o nome de John Clayton III, ou Lorde Greystoke (Alexander Skarsgård), o Filho das Selvas vive em Londres entre duques e aristocratas. Casado com Jane Porter (Margot Robbie), o rapaz há tempos deixou a África para trás.

Como um resultado da Conferência de Berlim, o Congo agora está dividido entre o Reino Unido e a Bélgica. O governo belga, no entanto, está à beira da falência, tendo feito grandes dívidas para construir uma linha férrea nacional e outras infraestruturas. Para contornar o problema, o Rei Leopoldo da Bélgica, decidido em extrair minerais dos ricos depósitos do Congo, envia Léon Rom (Christoph Waltz) para recolher os famosos e lendários diamantes da cidade perdida de Opar. A expedição de Rom é emboscada e apenas ele sobrevive. O líder da tribo de Opar, Chefe Mbonga (Djimon Hounson), lhe oferece os diamantes se Léon lhe trouxer um antigo rival: Tarzan.

É a suspeita de que o governo da Bélgica está armando um esquema de escravização de povo do Congo que compelem Tarzan a voltar para casa.




A Lenda de Tarzan é um filme bastante complicado, e parte disso pode ter sido por causa de todos os problemas que a produção encontrou desde sua concepção. No fim das contas, ele raramente se mostra como algo além de uma desculpa para termos um cara seminu balançando em cipós e gritando pela floresta.

A direção de David Yates — que ficou amplamente conhecido por ter capitaneado os últimos filmes da saga Harry Potter, de A Ordem da Fênix até As Relíquias da Morte Parte 2, e que também está no comando da adaptação cinematográfica de Animais Fantásticos e Onde Habitam — não tem absolutamente nada demais. Com isso quero dizer que não há nada que realmente chame a atenção de uma maneira positiva, mas há muitas decisões bastante burras na escolha de alguns ângulos e principalmente em movimentos estranhos com as câmeras. Particularmente, a direção de Yates nunca me agradou bastante e suas decisões em seus filmes da saga Harry Potter não foram lá muito boas também. Sua direção junto da fotografia de Henry Braham (que trabalhou também em filmes como Nanny McPhee: A Babá Encantada e A Bússola de Ouro, além de estar trabalhando em Guardiões da Galáxia Vol. 2) mais atrapalharam este longa do que ajudaram.

Toda a história pode até ter parecido interessante no papel, mas na prática a coisa muda. Enquanto o filme até se supera na ação, ele sofre para segurar seu interesse no enredo e muitas vezes toma as decisões erradas sobre qual caminho seguir. Permeado de flashbacks que revelam a origem de Tarzan e seu encontro com Jane, por exemplo, talvez tenha sido uma boa ideia ter feito um simples reensaio da história original, embora seja difícil de culpar a produção por tentar algo novo. O problema mesmo é que esse "algo novo" não é bom o suficiente para te manter interessado (e acordado).




A atuação é onde o filme mais brilha. Alexander Skarsgård faz um bom trabalho como Tarzan. Não só ele se parece fisicamente com o personagem de Edgar Rice Burroughs como também consegue, sem muito esforço, transpassar a sensação de que, por mais incrível que possa parecer, realmente estamos vendo um cara que foi criado por gorilas e sabe lidar com os animais selvagens das savanas e florestas da África, mas sua atuação não vai além disso. O mesmo pode ser dito de Christoph Waltz: já está mais que provado que ele se dá bem como qualquer vilão que tiver de interpretar, mas o problema é fazer com que a atuação se destaque em meio as outras, considerando que o ator é mais um que pode estar sofrendo do typecasting.

O destaque mesmo fica para Margot Robbie como Jane — sarcástica e, surpreendentemente, não completamente inofensiva, fugindo parcialmente das classificação de donzela em perigo —, e Samuel L. Jackson como George Washington Williams. Primariamente servindo de alívio cômico para o longa, seus momentos são, na maioria das vezes, muito bem inseridos e funcionam bastante (particularmente um, que envolve orelhas, me fez rir consideravelmente), embora nem todos compartilhem do mesmo timing perfeito. De qualquer maneira eu não fazia a menor ideia de que o ator estava no filme, visto que entrei na sala do cinema sem saber absolutamente nada da produção (não tinha visto nenhum trailer... nada), e o ator foi, de longe, a melhor coisa por aqui (o que, convenhamos, não é algo raro de acontecer).




O trabalho com a computação gráfica é bastante impressionante na maior parte do tempo, realmente, embora existam algumas cenas onde a coisa fica muito mais artificial do que devia e sua imersão é quebrada na hora.

A trilha de Rupert Gregson-Williams é bastante interessante e efetiva também. Pode não ser a substituição definitiva principalmente para aqueles que cresceram ouvindo o trabalho de Phil Collins no filme animado da Disney, mas ela faz bem seu trabalho considerando a abordagem muito mais séria e "sombria" que quiseram tomar nessa produção.

A Lenda de Tarzan não faz muito para se tornar memorável e acaba caindo em território de filmes que serão esquecidos em pouco tempo. Se você cresceu com o Tarzan animado da Disney, a polarização pode ser difícil de prever... você pode gostar, talvez pelo valor mais emocional da coisa, ou você pode não gostar pelo mesmo motivo, como foi o meu caso. Eu também fui um dos que cresceram com a animação da Disney e, pra mim, ela é a versão mais expressiva da história e, talvez por causa disso (ou não), a abordagem do filme, somada à direção meio descuidada de Yates e a falta de interesse na história não tenham me conquistado.


AVALIAÇÃO: 2.5/5
"Regular"

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