sexta-feira, 29 de julho de 2016

Jason Bourne | Quando apenas ótimo não é o suficiente. (Crítica)



É inegável que quando a maior parte do mundo conheceu o nome Jason Bourne na década passada, os seus filmes, baseados nos personagens escritos por Robert Ludlum, foram de suma importância para o cinema de ação. Apresentando um estilo mais cru do que o que era visto e muito mais visceral do que o normal, a trilogia Bourne formada por Identidade, Supremacia e Ultimato fez escola. Até o maior espião do mundo — um inglês odiável que sempre prefere seu martini batido, não mexido e que também atende pelas mesmas duas iniciais — aprendeu com o americano com amnésia, rebootando sua franquia em 2006 e tomando uma abordagem muito mais realista e brutal que antes. Isto, é claro, sem contar com as incontáveis tentativas genéricas de replicar a excelência da trilogia (ou pelo menos conseguir algum dinheiro fácil).

A própria Universal sentiu falta de sua franquia, tanto que tentou revivê-la e, mesmo com o astro principal e o diretor se recusando a voltar, seguiu em frente com o projeto e, escalando o ótimo Jeremy Renner para o papel principal, lançou, em 2012, O Legado Bourne, que era tudo menos um filme de ação satisfatório e muito menos uma digna sequência para, com o perdão do trocadilho, carregar o legado de Bourne. Mas mesmo com a recepção mista d'O Legado, a Universal não parou e ontem (28/07) chegou aos cinemas o retorno mais aguardado da história do cinema de ação.

Jason Bourne é, assim como os dois últimos filmes da trilogia, dirigido por Paul Greengrass, escrito por Paul Greengrass e Christopher Rouse e no elenco conta com a volta gloriosa e aguardada de Matt Damon e Julia Stiles, além de novas adições (de grandes nomes) como Tommy Lee Jones, Alicia Vikander e Vincent Cassel.




Eu vou me manter tão vago quanto os trailers para não estragar a surpresa de ninguém, então o que eu posso dizer é que Bourne toma conhecimento de certas coisas de seu passado e parte numa "jornada de vingança" para encontrar os responsáveis por coisas que aconteceram anos atrás.

Primeiramente, podemos fingir só por enquanto que O Legado Bourne nunca existiu? Sim? Obrigado.

Essa sequência precisava existir? Não, não precisava. Mas se você fosse levar sempre esse questionamento em consideração, notaria que raramente uma sequência precisa existir. Enfim...

Eu sou um grandessíssimo fã da trilogia encabeçada por Matt Damon (que eu não fiz nenhuma crítica pro blog porque eu sou burrão, me desculpa). É o tipo raro de trilogia em que cada filme é melhor que o antecessor (é a única trilogia desse tipo que me vem à cabeça, na verdade). Se você não conhece, digo que deveria sair daqui neste instante e ir ver os três filmes, que estão até na Netflix.

Com isso em mente, é óbvio que eu entrei no cinema com o coração na boca de apreensão, com medo de que esse filme não seria melhor que O Ultimato Bourne, ou que não seria melhor que nenhum dos três, ou pior ainda: que não seria bom.

De fato, esse longa tem pontos extremamente positivos que deixaria os outros três filmes orgulhosos, mas outros aspectos que... bem, infelizmente, nem tanto.

Após uma fantástica introdução no primeiro ato, somos apresentados ao "recheio" da história, que trata de uma nova espécie de "rede social" (com fortes paralelos com o Facebook) que é utilizada por mais de um bilhão de pessoas e que traz à tona todo aquele debate de privacidade e vigilância e o big brother e tudo mais.




No entanto, enquanto esse longa excele em ação e nas atuações, o grosso da história acaba por deixar a desejar já que há MUITO tempo dedicado à toda essa trama da rede social e toda vez que tal trama é abordada, o ótimo ritmo de tudo é quebrado com violência.

Mas o fato de esse ser o "pior" dos quatro filmes do personagem de Matt Damon definitivamente NÃO quer dizer que esse seja um filme ruim. Longe disso. Ele, por exemplo, está há PARSECS a frente d'O Legado e de muitos outros filmes de ação.

Falando na ação, neste longa ela é produto de excelência. Visceral e impressionante, temos cenas incríveis de lutas, uma espetacular perseguição de carros que não faz feio mesmo quando posta lado a lado com as que temos em A Identidade e em A Supremacia e uma perseguição de moto que é igualmente explodidora de cabeças.

A direção de Paul Greengrass retorna excelente, com o mesmo ritmo frenético de A Supremacia e O Ultimato. Sendo um dos pouquíssimos (e com pouquíssimos eu quero dizer que dá pra contar nos dedos de uma mão) diretores que sabe usar com maestria a famigerada shaky cam (ou câmera sacudida) sem dar um nó no seu cérebro, ele, junto do também excelente diretor de fotografia Barry Ackroyd (que trabalhou com Greengrass anteriormente no ótimo Capitão Phillips) e do editor Christopher Rouse (que, como você viu, também é roteirista, junto de Greengrass), conseguem capturar e transpassar toda a característica brutalidade da saga de Bourne.




A atuação também mantém um nível extremamente elevado de qualidade. Matt Damon, por exemplo, mesmo com 45 anos, continua em seu auge e é possível até traçar um paralelo com Tom Cruise aqui. Não há muitas palavras para definir sua atuação aqui com exceção do fato de que ele é Jason Bourne. Ele deu um show nos três filmes anteriores e aqui não é diferente. Evidentemente, não foi necessário muito esforço para voltar a interpretar o personagem de nove anos atrás, aqui mais frio. silencioso e amargo.

Outro destaque vai para a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante deste ano (algo um tanto controverso, visto que A Garota Dinamarquesa era mais sobre ela do que qualquer outra coisa) e também a nova Lara Croft dos cinemas: a mais que excelente Alicia Vikander, que interpreta a diretora de crimes cibernéticos da CIA. Não é exagero dizer que ela, em muitos momentos, acaba por roubar os holofotes de Damon. É, ela é tão boa assim: uma personagem bastante forte que "não tem medo" de roubar a cena do personagem principal (pense em Charlize Theron como a Imperatriz Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria).

Por fim, o sempre ótimo Tommy Lee Jones, no papel do diretor da CIA e o vilão principal do filme, que claramente se diverte aqui.




Mas o problema, como eu disse, reside na história e toda a trama da rede social e a invasão de privacidade. Enquanto segue como um filme de vingança, Jason Bourne segue incrível, mas em todos os momentos que volta a falar da tal rede social, o ritmo é quebrado e tudo vai pro caralho, até pegar no tranco outra vez. Foi essa "inconstância" que me incomodou bastante.

Agora você vai terminar de ler esta crítica e, levando tudo o que eu falei até agora em consideração, vai ver a nota e perguntar "Mas que porra é essa? Como assim?" e eu não posso exatamente te culpar, mas posso ao menos tentar explicar: Jason Bourne é um ótimo filme de ação e, fosse ele apenas isso — um filme de ação —, não teríamos o menor problema e ele certamente receberia a nota máxima, mesmo com a quebra de ritmo meio constante. O problema é que ele carrega o legado de uma trilogia de filmes excelentes cuja qualidade vai só aumentando a cada novo longa. Por fazer parte da "saga Bourne", ótimo não é o suficiente. Ele deveria ter sido espetacular, mas não o é.

Entretanto, mesmo com isso em mente, se você gosta de filmes de ação ou, melhor ainda, é fã da franquia, corra pro cinema mais próximo e assista, porque ainda assim vale bastante a pena (nem que seja pra esquecer de O Legado Bourne de uma vez).


AVALIAÇÃO: 4/5
"Ótimo"

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