segunda-feira, 25 de julho de 2016

Caça-Fantasmas | Horrível? Não. Ótimo? Também não. (Crítica)



Quando a Sony anunciou que um dos maiores filmes de comédia da década de '80 estava sendo rebootado, o mundo entrou em pane. "Pior ainda" quando confirmaram que o novo longa substituiria o elenco principal de quatro homens para quatro mulheres... aí o mundo simplesmente parou de girar e a clássica guerra "internética" tomou força novamente e daí até a estreia foram um ano e alguns meses de "MEU DEUS ESSE NEGÓCIO TÁ TERRÍVEL TÁ ACABANDO COM A MINHA INFÂNCIA QUE PORRA É ESSA MULHERES?!?! VAI SER UMA BOSTA!!! #ORGULHODESERHÉTERO" e "PUTA QUE PARIU CHUPA SEUS MACHOS ESSE É UM FILME SÓ DE MULHERES VAI SER FODA!!! #NÃOPASSARÃO". Em outras palavras: sim, apenas um dia um cheio na internet, onde todo mundo tem 12 anos e permanentemente sente aquela vontade de brigar com/xingar/zoar outras pessoas.

Eis que há quase duas semanas o filme está em cartaz, e lá vou eu conferir.

(Antes de comentar sobre o filme eu poderia escrever aqui um texto sobre como "eu não sou machista ou misógino — visto que sou homem — e como eu não odeio as mulheres e que o fato do longa ser capitaneado por mulheres não é nenhum problema", mas eu não vou. Não vou porque isso deveria ser levado como o padrão e não o contrário. E também não vou porque nem 1000 linhas só disso vão mudar a cabeça de alguém que já formou as mais absurdas opiniões desde o momento em que viu que o autor da crítica é um homem. O que temos aqui é um simples caso de aceitar a opinião do "crítico" independente de ele ser um homem, uma mulher, um ornitorrinco ou um musaranho-alienígena e não ficar procurando motivos obscuros caso ela seja diferente da sua). Agora que tiramos isso do caminho, simbora:




Caça-Fantasmas (Ghostbusters) é um reboot do filme original de 1984 dirigido por Paul Feig, escrito por Paul Feig e Katie Dippold e estrelado por grandes comediantes como Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon e Leslie Jones, além de outros nomes como Charles Dance e Chris Hemsworth.

Quando eu assisti os dois filmes originais eu ainda era uma criança, mas eu nunca fui um super-fã da franquia e, como qualquer pessoa normal, eu não fiquei indignado que ela estava recomeçando do zero com mulheres no lugar dos quatro homens de antes, afinal de contas eu meio que entendo que Hollywood quer dinheiro e se algo fez sucesso antes, pode fazer novamente. O mundo vem esperando por um novo filme da franquia há quase 30 anos e, em 2016, a espera chegou ao fim.

A polarização a respeito deste filme, no entanto, estava incrivelmente insana até mesmo para os padrões da internet. Ou as pessoas iriam amar o longa com todo o coração e ele seria a melhor coisa do mundo pra sempre ou elas iriam odiar ele com todas as forças do inferno e ele seria a destruição definitiva de muitas infâncias, e a briga a respeito disso foi feia. Ridícula e desnecessária? Sim. Mas feia do mesmo jeito. O que aconteceu de fato foi ainda mais surpreendente: o filme não é nem um, nem outro.




Reboot é um bicho complicado. É mais complicado que zerar Contra 3 sem morrer nenhuma vez, na verdade. Há toda aquela história de ver se o reboot era realmente necessário e tinha algum motivo para existir fora o fato de que a produtora quer dinheiro. Ele adiciona algo de novo e bom? Ele melhora algo em relação ao original? Tantas perguntas...

Fato é que existem tantos reboots que são melhores que os filmes originais (como Onze Homens e Um Segredo e Scarface) quanto existem pessoas bilionárias no mundo.

Os muitos problemas de Caça-Fantasmas começam com a atuação e o roteiro. Das quatro personagens principais, uma tem personalidade e consegue se destacar visualmente enquanto as outras três, quando sozinhas, são um trem descarrilhado. Melissa McCarthy como Abby Yates, por exemplo, faz o mesmo papel que ela sempre fez (e que geralmente é bom, como em A Espiã que Sabia de Menos, embora Tammy tenha sido um horror), mas ela nunca consegue se destacar quando está junto das outras e sozinha ela não tem o menor carisma. O mesmo pode ser dito de Kristen Wiig como Erin Gilbert: mesmo papel, nenhuma personalidade, carisma zero.




Já Leslie Jones, como Patty Tolan, até consegue chamar um pouco de atenção, mas pelos motivos errados. Nenhuma palavra que sua personagem diz carrega um mínimo de graça, e ela se limita a gritar das maneiras mais estranhas e desconfortantes para prender a atenção da audiência. Sua atuação, quando não está tentando ser a pessoa mais engraçada do mundo do jeito mais errado de todos, é artificial e cheia de maneirismos, chega até a ser desrespeitosa para a atriz.

A exceção vem com a interpretação de Kate McKinnon como Jillian Holtzman. Ela é meio que a doida da história, mas é, de longe, a que mais tem uma personalidade própria e consegue brilhar individualmente. Eu não conhecia a atriz, mas sua atuação aqui me deixou uma ótima primeira impressão.

Dito tudo isso, as quatro funcionam até que bem quando juntas e a química é bacana. É que individualmente umas são completamente "tanto faz" e outra é, francamente, ruim.




A direção de Paul Feig é bastante segura. O homem já tinha feito um bom trabalho anteriormente em filmes como A Espiã que Sabia de Menos e As Bem-Armadas, mas Caça-Fantasmas não é exatamente um plus pra sua filmografia.

O roteiro é depressivo. Além de ter um esqueleto bastante semelhante ao do filme original, ele tenta demasiadamente ser engraçado, mas não se preocupa em procurar novas piadas e, em mais de um caso, utiliza a mesma piada de novo e de novo e de novo até a exaustão. Quantas vezes temos de ouvir a piadinha do wanton? Ou quantas vezes precisamos ver a personagem de Kristen Wiig ser coberta de ectoplasma? Ou, pior ainda, quantas vezes precisamos ver o personagem de Chris Hemsworth? Falando nisso, ele é péssimo. Completamente desastroso. O fato de seu personagem ser totalmente imbecil não faria mal se o filme não tocasse no assunto 4.687.200 vezes de forma que acaba te deixando puto e você começa a achar que fantasmas em Nova York é menos impossível do que um ser-humano ser tão incrivelmente retardado.

Hemsworth, junto de Neil Casey, interpretando o vilão Rowan North, são, de longe, as piores coisas do filme. Aliás, por falar no vilão, ele é muito mais que péssimo e sua motivação é tão cativante quanto aquela do Electro em O Espetacular Homem-Aranha 2.




Dito isso, o filme não é NEM DE LONGE aquele desastre radioativo que muita gente queria que fosse (e muita gente diz que é), ele simplesmente não é aquela grande coisa que tantos outros também queriam. Entre as coisas que se destacam positivamente, além da supracitada atuação de Kate McKinnon, estão elementos técnicos como a computação gráfica que é bastante boa.

No entanto, quando suas qualidades e defeitos são postos na balança, Caça-Fantasmas não vai nem pra um lado, nem pra outro. Não é um filme terrível (como aquele trailer horrível meio que sugeriu), mas não é nenhuma grande coisa. Não é engraçado, é chato, bastante descartável e provavelmente ninguém vai nem lembrar dele em 6 meses. Diabos, faz 4 horas que eu assisti e eu mal me lembro, o que põe em cheque o motivo para esse reboot existir fora o fator dinheiro. Ah, as pontas do elenco original também não ajudam em nada. Não vale uma ida ao cinema... se você quiser mesmo assistir, espere sair em serviços como Netflix ou alugue digitalmente (ou numa locadora, caso ainda exista alguma em sua região).


AVALIAÇÃO: 2/5
"Medíocre"

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