E a Guerra Civil da Marvel finalmente chegou aos
cinemas na semana passada! Quem diria que, há pouco menos de duas décadas
atrás, era raridade um super-herói ganhar um filme, ainda mais se ele não fosse
ridiculamente popular, como o Superman ou o Homem-Aranha. Hoje, temos não só
filmes de personagens completamente desconhecidos, como o Homem-Formiga ou os
Guardiões da Galáxia, como também temos adaptações de arcos inteiros, sagas
completas no mundo dos quadrinhos, e que, no fim das contas, são bons! (Isso
automaticamente exclui X-Men 3: O
Confronto Final, por exemplo, que tentou trazer a Fênix).
Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War) foi, assim
como o último filme do Bandeiroso, dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo,
escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely e trouxe, basicamente,
todo o elenco principal de Vingadores:
Era de Ultron (com duas exceções) e mais um monte de outros heróis. Dito
isso, temos Chris Evans, Robert Downey Jr., Scarlett Johansson, Sebastian
Stan, Elizabeth Olsen, Paul Bettany, Don Cheadle, Anthony Mackie,
Paul Rudd, Frank Grillo, Jeremy Renner,
Paul Rudd e os recém-chegados ao MCU
Tom Holland, Marisa Tomei, Chadwick
Boseman e Daniel Brühl, além da
surpreendente volta de William Hurt,
que estava longe do MCU desde o segundo filme desse extenso universo
compartilhado, O Incrível Hulk. Ufa!
Basicamente, esse é o maior encontro de super-heróis da história do cinema, até
o momento.
Em Guerra Civil, toda a destruição causada
pelos heróis ao longo dos filmes anteriores finalmente teve consequências.
Com a destruição de Nova York em Os
Vingadores, Washington em Capitão
América: O Soldado Invernal, Sokovia em Vingadores:
Era de Ultron (curiosamente eles não contaram Londres, em Thor: O Mundo Sombrio) e, mais
recentemente, em Lagos, na Nigéria, governos do mundo inteiro se juntaram e
criaram os Tratados de Sokovia, algo que, em prática, controlaria as ações dos
Vingadores, minimizando danos. Por motivos um tanto pessoais, Tony Stark (Robert Downey Jr.) se
propõe a assinar os Tratados, enquanto Steve
Rogers (Chris Evans) se põe completamente contra esse tipo de controle.
Pronto, está armada a Guerra Civil. :D
Esse
filme é impressionante em diversas maneiras. Possui duas características dos
trabalhos dos Russo Brothers na Marvel: o tom é muito mais sério (sem deixar de
lado o característico humor dos longas da Marvel, claro), algo que foi esboçado
em Capitão América 2 e um pouco mais
aproveitado em Vingadores 2, mas que
brilha de verdade só aqui. Além disso, ele se mostra não como um filme de
super-heróis, como Os Vingadores, por
exemplo, mas sim como um filme de ação que, por ironia do destino, tem pessoas superpoderosas.
Por
falar nisso, a ação nesse longa beira o espetacular (e eu nem tô falando do
Teioso. Já já conversaremos sobre ele). O stunt-team,
ou equipe dos paranauês, como quiser chamar (até porque “malabarismo” não é exatamente
a palavra certa) fez milagres. Se em O
Soldado Invernal a ação já era visceral, pé no chão e altamente empolgante,
coisa que faria até mesmo Jason Bourne abrir um sorriso de orelha à orelha,
aqui as coisas são ainda melhores. Existem cenas que não fazem nada menos do
que te deixar boquiaberto, ainda mais aquelas protagonizadas pela Viúva-Negra (Scarlett Johansson). Jason
Bourne está orgulhoso.
Por
outro lado, o trabalho com as câmeras chega a incomodar em certos momentos. Com
ainda mais cortes secos super-rápidos que seu antecessor, o novo filme do
Capitão traz também aquela “técnica” que primeiro frita o cérebro do espectador
e depois o enche de raiva: a famigerada shaky
cam, ou câmera sacudida. Uma doença que infecta Hollywood e que eu nunca
imaginei que veria em um filme da Marvel, mas eis que ela surge. Não sei ao
certo o motivo dela estar aqui, já que não é para mascarar a ação, que
claramente é mais do que competente. Isso é um tanto decepcionante, na verdade,
além de me deixar inseguro a respeito dos dois últimos filmes da Terceira Fase
do MCU, as duas partes de Vingadores: Guerra
Infinita que também estarão nas mãos dos irmãos Russo.
O
que é sempre bom lembrar é que esse ainda é um filme do Capitão América e não
dos Vingadores, o que significa que boa parte dos seus 147 minutos é voltada à
busca do herói pelo seu melhor amigo de infância, Bucky Barnes (Sebastian Stan) e essa parte da história funciona
muito bem, embora isso não queira dizer que o conflito entre o Capitão e o
Homem de Ferro seja ruim.
Muito
pelo contrário, esse conflito é muito bem desenvolvido, e você entende cada um
dos lados completamente. Tendo isso em mente, tomar um partido logo no início
do filme e não se questionar nem mesmo uma vez ao longo da experiência certamente
quer dizer que você tem um coração de pedra. Por ser extremamente bem
desenvolvido e criar um grande dilema moral, quando o conflito físico
finalmente começa, você se importa com cada um dos personagens.
Os recém-chegados
ao universo da Marvel certamente foram recebidos com muita apreensão e, de
certa forma, cumpriram com as expectativas. O Pantera Negra de Chadwick Boseman, por exemplo, é ótimo e, mesmo
surgindo nesse longa e tendo um tempo de tela limitado para se desenvolver, consegue
ser bastante cativante. Um legítimo badass.
O
mesmo pode ser dito do Homem-Aranha
de Tom Holland. Sua apresentação é eficiente e sua interação com o resto dos
heróis na emblemática batalha num aeroporto é mais do que divertida. Cheio de
piadas e com uma boca que fecha tanto quanto a do Mercenário Tagarela Deadpool,
o Aranha aqui é como o fanboy na plateia, incrédulo e espantado com tudo que
está vendo, “tietando” cada um sempre que surge a menor oportunidade. O único
problema de seu personagem é que ele é mais um fan-service do que algo integral
e importante ao enredo. Se ele não estivesse aqui, não faria a menor diferença
em termos de história, e é um tanto triste ver o Teioso aparecer efetivamente
em uma cena, e nunca mais depois. Por outro lado, sua introdução é, no mínimo,
memorável. Apadrinhado por Tony Stark, o jovem Peter Parker é realmente um
garoto pobre do Queens, dono de um péssimo computador da década de ’90 e um
praticante de dumpster diving, dotado
de um uniforme terrível antes de ganhar um upgrade
do bilionário. O personagem é divertido e relacionável, mas muito subestimado.
Mas
afinal, é ou não é o melhor Homem-Aranha dos cinemas? Difícil dizer. Tanto
enaltecimento pela internet afora mais parece sintoma da mágoa deixada por O Espetacular Homem-Aranha 2 ou uma vontade
louca de firmar a Marvel como a maior e única autoridade quando se trata de
adaptações de quadrinhos, graças à passagem de Batman v Superman recentemente.
Ao
meu ver, ainda é cedo para enaltecer tanto assim o personagem que a Casa das
Ideias botou na telona. Parece ser mais sensato esperar pelo seu aguardado
filme solo, que chega em Julho do ano que vem. Tiraremos tais conclusões só
então.
Mesmo
com suas qualidade, Capitão América:
Guerra Civil ainda está um pouco longe da perfeição. Além do incômodo que é
a fotografia, ainda existem alguns problemas no roteiro. Um em específico que também
estava em Era de Ultron me incomodou bastante:
o desenvolvimento dos personagens. Tanto o Homem-Aranha quanto o Homem-Formiga de Paul Rudd não são
muito bem-desenvolvidos, mas não de forma tão ruim quanto na segunda emplacada
dos Vingadores, com os gêmeos Maximoff. Por mais que os dois funcionem muito
bem na cena em que entram em ação, fica aquele gosto amargo de que um não foi
usado como deveria e abandonado logo depois da ação e o outro não evoluiu nada
desde o filme passado, também sendo abandonado logo após o confronto. Além
disso, existe um confronto emocional com Tony Stark que envolve os seus pais e
que também não convence muito, além de parecer um pouco apressado.
A
computação gráfica é algo que chega a dar vergonha. Em uma cena de perseguição
numa rodovia, o Pantera Negra te tira completamente do filme por uma CGI bem
meia-boca e o mesmo ocorre com o Cabeça de Teia em sua aparição no aeroporto.
Completamente inconcebível que um filme da Marvel apresente tais problemas,
visto que Homem de Ferro, de oito
anos atrás, por exemplo, não era tão estranho assim. E até hoje não o é.
No
entanto, diferente de Era de Ultron,
esse longa não tem nenhuma cena inexplicável e desnecessária que só existe pra
estabelecer uma sequência.
O
vilão, Barão Zemo (Daniel Brühl),
também não é lá muito convincente. Você entende os seus motivos, mas a ele
falta presença, e mesmo sendo o responsável por puxar as cordas e arquitetar
tudo, é comum você se esquecer dele durante o longa. Mais um pra conta de vilão
“méh” da Marvel, algo que vem rolando desde o término da Fase Um.
A
trilha sonora de Henry Jackman é bacaninha. Não é memorável nem nada disso, mas
é empolgante o suficiente quando precisa ser, mas ainda assim não chega nem aos
pés do incrível trabalho de Alan Silvestri em Os Vingadores.
Dizer
que Capitão América: Guerra Civil é o
melhor filme da Marvel é exagerar um pouco, algo que talvez também seja um
sintoma de Batman v Superman (“ah, a DC fez um filme meia-boca? Pois a
Marvel vai fazer O MELHOR FILME dela, só espera!”), mas é inegável que há
qualidade aqui, e é inegável que eles estão caminhando para um possível estouro
no gran-finale que será a Guerra Infinita contra o Titã Louco. Basta dar
atenção aos personagens novos e seguir a fórmula, porque ela parece que ainda
está dando certo.
AVALIAÇÃO:
4/5
"Ótimo" |
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