Batman
v Superman: A Origem da Justiça está logo ali e dia 24/03
poderemos ver toda sua glória em telonas de todo o Brasil...
Então
que tal dar uma olhada para trás e relembrar todas as vezes que ambos os heróis
deram as caras no cinema? Sendo assim, hoje nós vamos pôr a nostalgia pra
funcionar.
Aviso: Caso você não tenha assistido o
filme (por algum motivo), saiba que a crítica a seguir está repleta de
spoilers! Você foi avisado...
Lançado
no fim dos anos 80, mais precisamente em 1989, Batman foi dirigido por Tim
Burton, escrito por Sam Hamm e Warren Skaaren e trouxe um elenco
composto por nomes como Michael Keaton,
Jack Nicholson, Billy Dee Williams e Kim
Basinger.
Batman (simples e direto) foi lançado em
uma época onde os filmes de super-heróis (ou baseados em quadrinhos no geral)
ainda procuravam um meio de se estabelecerem no meio mainstream do cinema e até
então o único que havia conseguido se firmar (em partes porque seu protagonista
já causava impactos culturais avassaladores desde quando foi criado, lá em
1938) fora o filme do escoteiro voador, Superman
de 1978 (e que aqui no Brasil ficou conhecido como Super-Homem, mas nós vamos falar mais sobre esse filme depois).
O
Homem-Morcego, por sua vez, definitivamente não era um desconhecido do público e,
àquela altura já havia protagonizado algumas das melhores histórias em
quadrinhos de todos os tempos (leia-se A Piada
Mortal e O Cavaleiro das Trevas,
os mais conhecidos) desde sua primeira aparição lá na Detective Comics #27, em
1939. Além das HQs, o Cruzado Encapuzado já havia dado as caras na série de
televisão de 1966, Batman, onde foi
vivido por Adam West. Mas, ainda assim, o personagem ainda não estava firmado
na tela grande e nas graças do público mais geral, mas tudo isso mudou em 1989.
Sobre
o comando do novato-mas-já-estabelecido Tim Burton, Batman foi um verdadeiro marco na cultura pop. Na verdade, dizer que
o filme causou um impacto monumental na indústria do cinema não é dizer o
bastante. O filme causou controvérsia desde seu anúncio, principalmente pela
escalação de seu ator principal (algo que todos os caras que interpretaram o
Homem-Morcego no cinema sofreram, sem exceção. Na verdade, todo mundo que é
escalado para interpretar qualquer personagem já estabelecido, seja por filmes,
livros ou histórias em quadrinhos, sofre duras críticas. Basta ver as reações
para os atores escolhidos para interpretarem personagens como o Coringa ou
James Bond, assim como os já citados Batman e até mesmo o Superman. Sempre foi
assim, sempre vai ser assim). Diziam que Michael Keaton — ator até então
conhecido por seus papéis em filmes de comédia — era muito baixo e não tinha o
físico necessário para incorporar o personagem. E todas essas afirmações eram
verdades... mas e no fim? Importou? Não.
Mas
a influência de Batman é inegável, e
me arrisco a dizer que ele foi tão importante para o cinema quanto Tubarão e Star Wars. O hype era real e todo mundo queria ver a primeira
investida do Homem-Morcego nas telonas. O filme foi acompanhado de uma
enxurrada de merchandising: camisetas, bonecos, séries de TV animadas e até
redes de fast-food entraram na onda da saturação de marketing que ficou
conhecida como “Bat-mania”. Sério, tinha até cereal do herói preenchendo
prateleiras dos supermercados. Batman
não era apenas um filme de verão. Era o evento cinematográfico do ano.
E
não deu outra. O filme que havia custado cerca de US$ 35 milhões para ser
produzido arrebentou as bilheterias do mundo, e trouxe nada menos que US$ 411.35
milhões para os cofres da Warner Bros., isso sem falar no lucro que veio com o
merchandising. Estima-se que a Warner recebeu cerca de US$ 500 milhões de
dólares em caixa só com merchandising oficial do filme, ou seja, sem contar com
o bootleg, o pipipitchu, o não-licenciado sendo vendido nos camelôs da vida.
Desde então, desde o dia 23 de junho de 1989, o mundo do cinema nunca mais foi
o mesmo, ainda mais se falarmos do cinema dos super-heróis. Pode-se dizer que
todo filme de super-herói subsequente, de alguma forma, deve algo ao Batman de Tim Burton. Você vê o seu
design e sua pegada mais sombria e gótica em filmes como Demolidor, Motoqueiro-Fantasma
ou a série X-Men. Você ouve os ecos
da trilha sonora épica de Danny Elfman em filmes que vão da série Homem-Aranha até os Vingadores. Diabo, até a aclamada trilogia Batman de Christopher
Nolan bebe dessa fonte.
Mas
chega de falar do legado e da importância do filme para o cinema. Vamos falar
do dito-cujo. Vamos falar de Batman.
Logo
após os créditos iniciais, que mostram uma animação do logo do Morcego se
revelando aos poucos sob os nomes dos envolvidos no filme, um Morcego
empoeirado e desgastado, sombrio, acompanhado da épica música-tema composta por
Danny Elfman e que até hoje é icônica e imediatamente reconhecível (e que foi
parar em outras representações do personagem, como a série de TV animada), o
filme abre acompanhando uma família de mãe, pai e filho, tentando sem sucesso
conseguir um táxi. Depois de frustradas tentativas, eles resolvem seguir a pé
pelos tantos becos de Gotham City.
Falando
em Gotham City, desde o primeiro plano do filme já se percebe que aquela cidade
não é certa e que há alguma coisa de errado. A Gotham de Tim Burton é gótica e
sombria, mas também é podre e corrupta, e não é necessário muita coisa pra que
essa ideia entre em sua cabeça, apenas alguns segundos da primeira cena.
Voltando
à família, eles resolvem seguir pelos becos de Gotham até serem abordados por
bandidos. O pai é assassinado e, justamente quando você pensa que está vendo a
origem do Homem-Morcego, vem a surpresa: a mãe é deixada viva juntamente ao
filho. Não é o fim da família Wayne que estamos vendo aqui, apenas outro caso
parecido. Um eco na história. E eis que o plano seguinte mostra uma figura
encapuzada no terraço de um prédio, vendo a cena acontecer. Batman já está
estabelecido, meus amigos. Não precisamos de uma história de origem (mas ela
aparece assim mesmo, mais pra frente).
Sem
demora, depois de uma rápida conversa entre os dois bandidos sobre os boatos de
um morcego gigante cruzando os céus de Gotham durante a noite e fazendo
justiça, eis que o Homem-Morcego desce sobre os criminosos e resolve o caso.
Temos a memorável e épica cena em que o criminoso pergunta: “O que é você?” e temos a gloriosa
resposta “I’m Batman!”. E depois não
vemos o herói por um bom tempo.
E é
assim que Burton decide começar sua história, sem nenhum vislumbre de Bruce
Wayne no início, apenas um gostinho do Batman e depois o diretor parte para
estabelecer seu universo e tratar da política, corrupção e o submundo do crime
de Gotham City.
Não
muito tempo depois nós vemos o personagem de Jack Nicholson, um gângster
chamado Jack Napier que, mais pra frente, entra em confronto com o Cavaleiro
das Trevas (que ainda é considerado um mito, ou seja, sua carreira começou não
faz muito tempo) e acaba caindo num tanque de químicos, o que dá origem às
características clássicas do maior vilão da história das HQs: o Coringa.
E
essa cena se mantém bem fiel à origem do Coringa como representada em A Piada Mortal, onde ele também se chama
Jack (embora sem sobrenome. Napier é coisa do filme mesmo) e também cai num
tanque de produtos químicos, o que deixa sua pele pálida, seus cabelos verdes e
um sinistro sorriso permanente estampado em seu rosto. E, assim como a HQ, na
cena em que Jack vê seu rosto pela primeira vez após o acidente ele pira, se
torna insano. Aliás, essa cena (que não é a mesma da HQ, apenas o contexto) é
executada brilhantemente no filme, quando o personagem, meio encoberto nas
sombras, vê o seu reflexo no espelho e começa uma gargalhada, a principio sutil
e maníaca e depois alta, histérica e insana.
E
eu acho essa interpretação do Coringa não só como a mais fiel vista no cinema
live-action como também a melhor de todas (me desculpe Heath Ledger, que
descanse em paz, você fez um trabalho incrível, mas o Coringa é do Nicholson).
É nesse Coringa que eu vejo o mais perfeito balanço entre o palhaço teatral —
com seu aperto de mão mortal, as piadas sem-graça, as risadas insanas, o
revólver gigante, o super-isqueiro, a flor de lapela que jorra ácido e os trocadilhos — e o psicopata violento —
com seus assassinatos e planos diabólicos — que eu já vi no cinema. Aos olhos
desde que vos escreve, Jack Nicholson é o Coringa do cinema live-action (mas
não a interpretação definitiva do Coringa em um meio de entretenimento fora da
HQs, esse posto é e sempre será de Mark Hamill, o nosso eterno Luke Skywalker).
Da
mesma forma, eu acho que interpretação de Michael Keaton excelente.
Primeiramente, ao meu ver, um ator, quando escalado para ser o Batman, ele deve
estar ciente e preparado para interpretar TRÊS personagens diferentes:
- Bruce Wayne como figura pública, ou seja, o playboy, bilionário, excêntrico e babaca como visto em público;
- Bruce Wayne como ele realmente é. O personagem que vemos interagindo com Alfred e as pessoas que ele mais se importa;
- E, por fim, o Batman.
E,
ao meu ver, Keaton faz isso muito bem e ele é um ótimo Batman por causa disso.
O
longa, no entanto, não está livre de problemas, cujos maiores se encontram no
roteiro. Em alguns momentos, por exemplo, parece que filme luta para encontrar
o balanço certo entre a seriedade e a comédia escancarada, como na cena em que
o Coringa e seus capangas invadem um museu e estragam as pinturas ao som de
Prince...
Também
tem a questão da ação do tempo sobre a obra. Nem todas as cenas são tão boas
vistas hoje em dia e, embora a maioria delas tenham envelhecido muito bem, o
mesmo não pode ser dito de outras, principalmente as que se utilizam de efeitos
especiais mais elaborados.
A
armadura do Batman também não envelhecendo muito bem. De certo ela é muito
superior ao spandex cinza que Adam West usava quando ele interpretava o Cruzado
Encapuzado, e ela faz muito mais sentido na proposta do filme, mas hoje em dia
uma armadura de borracha não é tão atrativa. Além disso, ela foi a primeira a
iniciar a maldição do movimento dos filmes do Homem-Morcego. Por ser rígida, os
atores não podem virar a cabeça e nem se movimentar muito bem (e essa “maldição”
só seria quebrada lá em 2008 com Batman: O
Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan). Por isso, as cenas de luta
(embora 957 milhões de vezes superiores ao que veríamos mais pra frente) são um
tanto robóticas.
Por
fim, a direção do filme é ótima e Burton sabe muito bem coordenar seus atores
e, junto do diretor de fotografia Roger Pratt, posiciona as câmeras e enquadra
as cenas muito bem, enquadrando o Homem-Morcego quase sempre com ângulos abaixo do peito do ator, demonstrando imponência, coisa bem clássica mesmo. O único problema é o uso um tanto excessivo de ângulos
holandeses (o ato de inclinar a câmera, muitas vezes para dar ênfase ao drama,
angústia psicológica ou tensão da cena, usado brilhantemente em filmes como Homem de Ferro ). Não é nenhum Thor mas incomoda bastante, mas isso
pode ser coisa só minha.
Além disso, a ideia de que o próprio Coringa criou o Batman quando Napier assassinou os pais de Bruce Wayne parece ser uma ideia interessante (o Coringa cria o Batman e o Batman cria o Coringa), mas no fim ela só se mostra como uma coincidência absurda.
Além disso, a ideia de que o próprio Coringa criou o Batman quando Napier assassinou os pais de Bruce Wayne parece ser uma ideia interessante (o Coringa cria o Batman e o Batman cria o Coringa), mas no fim ela só se mostra como uma coincidência absurda.
No
fim das contas, o Batman de 1989 é
definitivamente um dos filmes mais importantes de todos os tempos, tanto do
cinema convencional quando das adaptações das histórias em quadrinhos, e
representou o início de uma nova era cinematográfica. Um sucesso de bilheteria
e crítica, o filme foi indicado a diversos prêmios, inclusive o Oscar (e acabou
levando o Careca Dourado por Melhor Direção de Arte) e influenciou dezenas de
outros filmes que sairiam nos anos e décadas seguintes. Um filme que envelheceu
bem e ainda é uma ótima fonte de entretenimento.
Ah, e um adendo: o Batmóvel é foda!
AVALIAÇÃO: 4/5
"Ótimo" |
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