quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Sniper Americano — O controverso filme indicado para o Oscar (Crítica)



Sniper Americano (American Sniper) era, de certo, um dos filmes que eu mais estava esperando ultimamente e, junto de outros longas, a minha vontade de assisti-lo só aumentou quando eu vi que ele recebeu 6 indicações para o Oscar 2015 (melhor filme, melhor ator (Bradley Cooper), melhor roteiro adaptado, melhor edição, melhor edição de som e melhor mixagem de som). Foi aí que eu tive certeza que algo de bom esse filme teria.

De qualquer maneira, "Sniper Americano" conta a história "real" de Chris Kyle, provavelmente o melhor atirador de elite dos SEALs que já pisou nos EUA (com pelo menos 160 assassinatos confirmados oficialmente, embora muitos dizem que 255 seria um número mais exato) e grande herói americano, condecorado com várias condecorações (duh) de grande relevo das forças armadas americanas. Dirigido pelo mestre Clint Eastwood e estrelado por Bradley Cooper, o longa que eu vi não foi tão "eletrizante" — por assim dizer — quanto eu imaginava que seria, nem como o hype surgido em volta dele sugeriu que seria.

É compreensível que eu tenha ficado no hype pra esse filme, afinal de contas, não só Steven Spielberg (dispensa comentários) chegou a ser cogitado pra dirigi-lo como também David O'Russel (o responsável pelo espetacular filme de 2010 "O Vencedor", assim como "Trapaça") antes de Eastwood finalmente pegar o cargo de diretor.

De qualquer maneira, quando eu vi o filme, não era bem aquilo que eu esperava...




É claro que, pra um filme indicado para 6 estatuetas de ouro, algo tinha que ser bom. E, realmente, tem muita coisa boa aqui. Por se tratar de um filme de guerra, principalmente, é fato que as cenas predominantes, isto é, as cenas de ação, elas são muito bem-construídas, bem-filmadas e bem bacanas — que inclusive chegaram a me lembrar algumas cenas do fantástico "Falcão Negro em Perigo", de Ridley Scott, por algum motivo. E existem momentos de tensão verdadeira também, além de momentos de surpresas genuinamente imprevisíveis (mais uma vez lembrando "Falcão Negro em Perigo"). 

Só que...

... Existem os poréns e, infelizmente, eles também pesam no fim. Começando pela atuação de Bradley Cooper, que não é de toda ruim — principalmente nas cenas mais empolgantes e surpreendentes que acontecem no meio dos tiroteios — mas que tem um problema chato: o sotaque. É falso, ruim e inconvincente. Soa claramente como algo "fora da zona de conforto" dele, por isso é distrativo e incomoda. E levando em conta que, logicamente, o ator fala praticamente durante o filme inteiro, isso já é o suficiente para eu discordar da indicação de melhor ator.

E não me leve a mal, não tenho nada contra o Cooper. É que chega a ser impressionante como alguém que, por exemplo, dublou o Rocket fucking Raccoon acabou dando dessas nesse filme, um problema que poderia ter sido contornado facilmente deixando o sotaque de lado. Mas isso prejudicaria um pouco a 'fidelidade' da adaptação pelo fato de que o verdadeiro Chris Kyle era do Texas, não? Não. Até porque a adaptação nem é tão fiel assim.

Tomando como gancho o que eu disse acima, posso falar sobre o outro problema que me incomodou: Eastwood tomou um caminho muito "preto-e-branco" nesse longa quando claramente o assunto (Chris Kyle) é muito mais "cinza".




Muita polêmica cerca esse filme porque bastante gente acha que Kyle não deveria ter sido idolatrado como foi, seja por todas as controvérsias causadas por coisas que ele mesmo disse — em entrevistas ou em sua biografia ou seja lá onde for —, por causa das alegações dele sobre saqueadores depois da passada do furacão Katrina, ou não, o fato é que esse filme o trata como um perfeito herói, salvador de muitas vidas mas nunca traz à tona alguns dos "cinzas" do próprio Kyle. Uma de suas citações era "eu mataria qualquer coisa que usasse um turbante", saca?

Além disso, é bom deixar claro que eu não estou aqui pra julgar Chris Kyle nem nada disso. Se tem alguém pra dizer se ele foi ou não um herói e salvou várias vidas, essa pessoa não sou eu. O que estou dizendo é que essas partes "cinzas" ou até o fato do cara ser considerado um assassino de sangue-frio deveriam ter sido exploradas no longa.

Aliás, no caso da atuação, ela realmente é boa, mas os personagens são muito pouco explorados e o mais interessante acaba sendo o personagem do Bradley Cooper mesmo, enquanto os outros são todos meio que rebaixados à secundários, até mesmo a esposa do soldado, Taya, interpretada por Sienna Miller, que aparece bastante no filme mas não é dada o devido "respeito".




Por fim, a última coisa que me incomodou foi o jeito que o filme explorou os problemas que a guerra causou no SEAL. Não explora direito o que o estresse pós-traumático pode fazer com a pessoa, por exemplo. Há cenas onde vemos que ele é um "homem ferido", por assim dizer, mas o filme como um todo acaba se parecendo só com uma "olhada procedural" em todas as viagens as quatro viagens que ele fez ao Iraque. Novamente, não estou julgando o assunto, só estou dizendo que o filme poderia ter explorado melhor as emoções do soldado, fim.

E, é claro, a cena com a boneca...

No final das contas, "American Sniper" é um bom filme de guerra, de verdade, mas que tenta falar de um assunto mais delicado (isto é: o que a guerra faz com uma pessoa, emocionalmente falando) e não consegue direito. Isso, junto do que eu já disse sobre os problemas na atuação do Cooper, são o suficiente para eu discordar das indicações de melhor ator e, infelizmente, de melhor filme também.


NOTA FINAL: 3.5/5

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