quinta-feira, 2 de março de 2017

Logan | Uau. (Crítica)

Talvez palavras não consigam expressar com muita exatidão tamanho êxtase que eu sentia enquanto saía daquela lotada sala de cinema. Logo de cara, processe essas palavras: este filme... Logan... é um filme incrível.





Logan é dirigido por James Mangold, o mesmo homem por trás do último filme solo do mutante, escrito por Mangold em parceria com Michael Green e Scott Frank e estrelado por, é claro, Hugh Jackman, Patrick Stewart, Boyd Holbrook e Dafne Keen e é, pelo menos de acordo com o próprio Hugh Jackman, o último filme do ator na pele de Wolverine.

Quando, há uns dois anos, Hugh Jackman anunciou que estava trabalhando em mais uma aventura solo do personagem, quase que instantaneamente eu retesei. O motivo, óbviamente, sendo o histórico do mutante em seus próprios longas, longe do resto da equipe, na atrocidade que foi X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, 2009) e no extremamente mediano Wolverine: Imortal (The Wolverine, 2013). Ainda mais por anunciarem que esta também seria dirigida por James Mangold, o inconsistente diretor responsável por ótimas obras como Os Indomáveis (3:10 To Yuma, 2007) e outras nem tão boas como Encontro Explosivo (Knight and Day, 2010), que também havia comandado Wolverine: Imortal.

Ao mesmo tempo, quando Jackman alegou que aquela seria a última vez que ele encarnaria o personagem, a sensação foi de uma leve tristeza. Ao longo dos 17 anos de carreira do australiano na pele do Wolverine eu nunca sequer pensei num possível substituto. Era impossível. E, se antes de assistir Logan já pensava assim, agora é certeza.




Logan nos apresenta a um futuro próximo, no ano de 2029, e um Wolverine (Hugh Jackman) muito mais velho, amargo e cansado do que estamos acostumados. Acompanhado dele está um doente Professor Charles Xavier (Patrick Stewart), igualmente encarando o fim da linha. Logan não é mais quem costumava ser. Uma sombra de si mesmo, que trabalha como motorista para arranjar uns trocados e poder comprar as drogas que o velho Xavier precisa. Até que os dois cruzam caminhos com a jovem Laura (Dafne Keen) e se veem em uma missão de proteger a garota enquanto a levam para um lugar seguro.

Se há alguém para se agradecer por termos Logan do jeito que temos hoje é Deadpool (2016). O longa do Mercenário Tagarela abriu as portas há muito fechadas para as possibilidades de retorno financeiro para uma obra com classificação indicativa ‘R’ (16 anos aqui no Brasil) se feito da maneira correta. E Logan deixa bem claro que é uma produção ‘R’ logo em sua primeira cena. É brutal e é a representação definitiva do personagem nas telonas. Você não sabia que precisava de um filme assim do Wolverine até assistir.

É também o longa “mais DC” de um personagem da Marvel. Por mais que Deadpool seja bastante violento e impróprio para menores, ele ainda carregava consigo uma alegria e um humor bastante característico dos filmes Marvel, embora um pouco mais negro. Logan, por outro lado, é um retrato bastante melancólico e sombrio de personagens cansados e debilitados. Existe humor aqui também, claro, mas ele é mantido graciosamente num nível mínimo.




Hugh Jackman, extremamente confortável no papel (afinal, já são 17 anos), dá um show incomum às outras aparições do personagem nos cinemas. Apoiando-se num belíssimo trabalho de maquiagem que o deixa quase irreconhecível quando comparado à sua aparência cotidiana, o ator australiano entrega a performance definitiva do personagem que dificilmente poderá ser equiparada caso a 20th Century Fox decida escolher outro ator para viver o Carcaju. Igualmente fantásticos estão Patrick Stewart, voltando ao seu papel que tem a mesma idade do que Jackman, e Dafne Keen, que dá um show espetacular como a jovem X-23, proferindo zero palavras durante grande parte do longa, baseando sua performance apenas em expressões e ações. A estrela-mirim definitivamente tem uma carreira brilhante pela frente. Boyd Holbrook, no papel do vilão Donald Pierce, também não faz feio, elevando o personagem que seria um simples vilão esquecível digno dos esforços mais recentes da Marvel Studios a um personagem que você ama odiar.

James Mangold entrega um fantástico trabalho aqui. Não só o tom é acertado, trazendo uma pegada de western moderno à obra (tal como A Qualquer Custo fez), como Mangold também conduz as cenas com maestria. No que se diz respeito à fotografia, John Mathieson — ninguém menos do que o responsável pela direção de fotografia de obras como Gladiador (Gladiator, 2000) e também X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011) — entrega um dos filmes mais bonitos do gênero que se tem notícia. Ah, vale citar que o longa toma a decisão curiosa de inserir quadrinhos dos X-Men em seu universo, uma decisão que faz total sentido e é extremamente inteligente, além de, claro, funcionar muito bem.




A partir de certo momento, o filme toma uma rota bastante peculiar para seu gênero e se torna um longa de viagem. O que funciona muito bem e ajuda bastante a desenvolver a relação entre o trio incomum de protagonistas, e aqui é bastante difícil não notar a semelhança desta com a premissa do aclamado vídeo-game The Last of Us, lançado em 2013. Sendo franco, no entanto, o maior problema de Logan reside em sua duração. Com 141 minutos, Logan é longo demais, o que dá brecha para alguns momentos do segundo ato arrastarem sem dó. Não é algo que acabe com a obra, claro, mas pode incomodar um pouco.

Será difícil... não, impossível... substituir Jackman nesse personagem. Logan é a despedida perfeita do personagem e faz valer a pena todo o tempo aguardado por um longa solo de qualidade e todos os 17 anos de experiência do ator como o Carcaju em tela. Logan é uma experiência única. Vamos sentir sua falta, Sr. Jackman.


AVALIAÇÃO: 5/5
"Extraordinário"

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