Talvez palavras não consigam expressar com muita
exatidão tamanho êxtase que eu sentia enquanto saía daquela lotada sala de
cinema. Logo de cara, processe essas palavras: este filme... Logan... é um
filme incrível.
Logan
é
dirigido por James Mangold, o mesmo
homem por trás do último filme solo do mutante, escrito por Mangold em parceria
com Michael Green e Scott Frank e estrelado por, é claro, Hugh Jackman, Patrick Stewart, Boyd
Holbrook e Dafne Keen e é, pelo menos
de acordo com o próprio Hugh Jackman, o último filme do ator na pele de
Wolverine.
Quando, há uns dois anos, Hugh Jackman anunciou que
estava trabalhando em mais uma aventura solo do personagem, quase que
instantaneamente eu retesei. O motivo, óbviamente, sendo o histórico do mutante
em seus próprios longas, longe do resto da equipe, na atrocidade que foi X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins:
Wolverine, 2009) e no extremamente mediano Wolverine:
Imortal (The Wolverine, 2013). Ainda mais por anunciarem que esta também
seria dirigida por James Mangold, o inconsistente diretor responsável por
ótimas obras como Os Indomáveis (3:10
To Yuma, 2007) e outras nem tão boas como Encontro
Explosivo (Knight and Day, 2010), que também havia comandado Wolverine: Imortal.
Ao mesmo tempo, quando Jackman alegou que aquela
seria a última vez que ele encarnaria o personagem, a sensação foi de uma leve
tristeza. Ao longo dos 17 anos de carreira do australiano na pele do Wolverine
eu nunca sequer pensei num possível substituto. Era impossível. E, se antes
de assistir Logan já pensava assim,
agora é certeza.
Logan
nos apresenta a um futuro próximo, no ano de 2029, e um Wolverine (Hugh Jackman) muito mais velho, amargo e cansado do que
estamos acostumados. Acompanhado dele está um doente Professor Charles Xavier (Patrick Stewart), igualmente encarando o
fim da linha. Logan não é mais quem costumava ser. Uma sombra de si mesmo, que
trabalha como motorista para arranjar uns trocados e poder comprar as drogas
que o velho Xavier precisa. Até que os dois cruzam caminhos com a jovem Laura (Dafne Keen) e se veem em uma
missão de proteger a garota enquanto a levam para um lugar seguro.
Se há alguém para se agradecer por termos Logan do jeito que temos hoje é Deadpool (2016). O longa do Mercenário
Tagarela abriu as portas há muito fechadas para as possibilidades de retorno
financeiro para uma obra com classificação indicativa ‘R’ (16 anos aqui no
Brasil) se feito da maneira correta. E Logan
deixa bem claro que é uma produção ‘R’ logo em sua primeira cena. É brutal
e é a representação definitiva do personagem nas telonas. Você não sabia que
precisava de um filme assim do Wolverine até assistir.
É também o longa “mais DC” de um personagem da
Marvel. Por mais que Deadpool seja
bastante violento e impróprio para menores, ele ainda carregava consigo uma
alegria e um humor bastante característico dos filmes Marvel, embora um pouco
mais negro. Logan, por outro lado, é
um retrato bastante melancólico e sombrio de personagens cansados e
debilitados. Existe humor aqui também, claro, mas ele é mantido graciosamente
num nível mínimo.
Hugh Jackman, extremamente confortável no papel
(afinal, já são 17 anos), dá um show incomum às outras aparições do personagem
nos cinemas. Apoiando-se num belíssimo trabalho de maquiagem que o deixa quase
irreconhecível quando comparado à sua aparência cotidiana, o ator australiano
entrega a performance definitiva do personagem que dificilmente poderá ser
equiparada caso a 20th Century Fox decida escolher outro ator para viver o
Carcaju. Igualmente fantásticos estão Patrick Stewart, voltando ao seu papel
que tem a mesma idade do que Jackman, e Dafne Keen, que dá um show espetacular
como a jovem X-23, proferindo zero
palavras durante grande parte do longa, baseando sua performance apenas em
expressões e ações. A estrela-mirim definitivamente tem uma carreira brilhante
pela frente. Boyd Holbrook, no papel do vilão Donald Pierce, também não faz feio, elevando o personagem que seria
um simples vilão esquecível digno dos esforços mais recentes da Marvel Studios
a um personagem que você ama odiar.
James Mangold entrega um fantástico trabalho aqui.
Não só o tom é acertado, trazendo uma pegada de western moderno à obra (tal
como A Qualquer Custo fez), como Mangold
também conduz as cenas com maestria. No que se diz respeito à fotografia, John Mathieson — ninguém menos do que o
responsável pela direção de fotografia de obras como Gladiador (Gladiator, 2000) e também X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011) — entrega um dos
filmes mais bonitos do gênero que se tem notícia. Ah, vale citar que o longa
toma a decisão curiosa de inserir quadrinhos dos X-Men em seu universo, uma
decisão que faz total sentido e é extremamente inteligente, além de, claro,
funcionar muito bem.
A partir de certo momento, o filme toma uma rota
bastante peculiar para seu gênero e se torna um longa de viagem. O que funciona
muito bem e ajuda bastante a desenvolver a relação entre o trio incomum de
protagonistas, e aqui é bastante difícil não notar a semelhança desta com a premissa do aclamado vídeo-game The Last of Us, lançado em 2013. Sendo franco, no entanto, o maior problema de Logan reside em sua duração. Com 141 minutos, Logan é longo demais, o que dá brecha
para alguns momentos do segundo ato arrastarem sem dó. Não é algo que acabe com
a obra, claro, mas pode incomodar um pouco.
Será difícil... não, impossível... substituir
Jackman nesse personagem. Logan é a
despedida perfeita do personagem e faz valer a pena todo o tempo aguardado por
um longa solo de qualidade e todos os 17 anos de experiência do ator como o
Carcaju em tela. Logan é uma
experiência única. Vamos sentir sua falta, Sr. Jackman.
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