sexta-feira, 8 de abril de 2016

Homem-Aranha | "Seu Amigão da Vizinhança!" (Crítica)



Capitão América: Guerra Civil está quase chegando e o querido Cabeça de Teia vai estar lá, figurando num filme live-action pela primeira vez desde a parceria entre a Sony e a Marvel. Então que tal relembrar todos os filmes do Aranha, mais ou menos como aquela série de posts em preparação para Batman v Superman: A Origem da Justiça? Bora?
            

Atenção: Caso você ainda não tenha assistido ao filme, saiba que a crítica a seguir contém alguns spoilers. Você foi avisado...
            

Lançado em 2002, Homem-Aranha (Spider-Man) foi dirigido pelo mestre Sam Raimi, escrito por David Koepp e trouxe um elenco composto por Tobey Maguire, Willem Dafoe, Kirsten Dunst, James Franco e J. K. Simmons.
            
O personagem Homem-Aranha foi, provavelmente, o personagem fictício mais importante da minha vida. Eu cresci assistindo ao clássico desenho da década de ’90 (que foi exibido entre 1994 e 1998, mais especificamente) que era exibido nas manhãs da programação da Rede Globo.



            
Eu possuía, claro, uma fantasia (extremamente tosca, sem luvas, sem botas e sem máscara. Apenas o macacão que fechava com uma fita de velcro — que não se chama velcro mesmo, mas ninguém liga. Esse é o poder do marketing — nas costas) do Teioso que eu vestia o tempo todo e corria pela casa e na rua com meus amigos quando garoto. Assim como muitas crianças por aí, eu queria ser o cara.
            
Na verdade, ele provavelmente foi o primeiro super-herói por quem eu me interessei. Pra você ter uma ideia, a Liga da Justiça, por exemplo, não me interessou nem um pouco até eu envelhecer um pouco mais. Na minha infância, quem eu amava mesmo era o Homem-Aranha.
            
Esse filme foi extremamente importante lá em 2002 (longínquo ano). Não só foi o fato do maior personagem da Marvel Comics finalmente estar indo para a tela grande como também era um dos poucos filmes de super-herói que se tinha no momento. É verdade que filmes de personagens como Superman, Batman, Blade e X-Men já existiam, mas Homem-Aranha foi o primeiro filme da história a arrecadar mais de US$ 100 milhões em seu final de semana da estreia, um recorde que só seria quebrado por Piratas do Caribe: O Baú da Morte, em 2006. Além disso, o filme ficou por um bom tempo entre as cinco maiores bilheterias de todos os tempos e ainda foi indicado a dois Oscars. É mole?



            
Eu já devo ter assistido a esse filme mais de 8 mil vezes, mas as minhas opiniões sempre estiveram em constante mudança enquanto eu crescia e amadurecia, naturalmente. E foi recentemente que eu pensei, por que não voltar lá e analisa-lo como eu faço com todos os filmes que eu vejo agora, sendo o chato que sou? Fiz. E o resultado você confere aí embaixo:
            
Primeiro de tudo, vários diretores foram considerados para comandarem o longa. Chris Columbus e David Fincher estavam entre eles, mas se havia alguém perfeito para dirigir um filme do Amigão da Vizinhança, esse alguém era Sam Raimi. E se precisasse ser um fã absurdo de histórias em quadrinhos, melhor ainda: o cara tem uma coleção gigantesca delas! Então, sim, ele sabe a sensação que um filme adaptado dum quadrinho de super-heróis deve passar. E ele acertou em cheio.
            
Um dos maiores trunfos desse filme do Aranha, algo que se mostra ainda mais importante hoje em dia, é o fato dele ser um filme que se permite ser divertido, mas não descompromissado. E isso não quer dizer ter uma piadinha aqui e outra acolá, como o que a Marvel faz com seu universo cinematográfico expandido hoje em dia. Não quer dizer alívio cômico. Homem-Aranha, graças a Sam Raimi, que aqui trabalha com uma paleta de cores bem vibrante, parece ter sido arrancado diretamente dos quadrinhos, e tem aquela sensação de “molecagem” dos quadrinhos durante todos os seus 121 minutos.



            
Outro motivo que mostra que Raimi foi a escolha perfeita para o filme é o fato de ele ser um ótimo — repito: ótimo — diretor “em câmera”. O cara faz milagres com efeitos especiais práticos com um mínimo de orçamento, como ele fez na sua trilogia The Evil Dead. Esse longa é, surpreendentemente, recheado de efeitos práticos, sets de filmagem construídos de formas peculiares (“de lado” ou invertidos, por exemplo).
            
E não só o diretor foi uma escolha perfeita como também o elenco foi escolhido a dedo. Cuidadosamente, Raimi trouxe talentos absurdos e o resultado da “escalação” foi quase perfeito. Tobey Maguire faz um trabalho muito bom como Peter Parker e, mesmo que ele seja meio chorão em alguns momentos (e lesado também, mas isso é só nos próximos filmes), seu trabalho para interpretar um Peter órfão. O nerd desajeitado, desajustado, rejeitado e só. Aquele que nunca teve um mentor (diferente de outros jovens heróis, como Robin ou Bucky) e teve que aprender a lidar com seus poderes sozinhos. Aquele cara que ninguém nunca iria acreditar que fosse um herói. Ultimate com pitadas de Amazing.
            
Kirsten Dunst como Mary Jane Watson foi outra grande escolha, mesmo que em alguns momentos ela seja a clássica “donzela em perigo”, ela é uma personagem muito forte e muito bem desenvolvida, sendo a filha de um pai abusivo que quer deixar aquela vida e ser levada a sério, se tornando uma atriz de teatro com sonhos de estrelar as grandes peças da Broadway, ao mesmo tempo que ela tem essa personalidade de “garota descolada” que ela “ativa” toda vez que vê pessoas como Flash Thompson (Joe Manganiello), como uma espécie de mecanismo de defesa.



            
Assim como o Harry Osborn de James Franco e sua relação conflituosa com Peter, seu melhor amigo, recheada de ciúmes pelo fato de seu pai aparentemente respeitar Peter mais que seu próprio filho.
            
Willem Dafoe como Duende Verde foi uma sacada de gênio. Não só o ator praticamente implorou para poder viver o personagem como também, após sua interpretação, eu não consigo pensar em mais ninguém que possa fazer jus ao vilão. O equilíbrio perfeito entre insanidade e intimidação. Tal foi sua dedicação ao papel que ele fez o departamento de figurino re-desenhar todo o traje do vilão para que ele pudesse fazer a maioria das cenas de ação pessoalmente, sem a necessidade de um dublê. E você tem que respeitar um cara por isso.
            
Rosemary Harris como Tia May e Cliff Robertson como Tio Ben são outras duas escolhas inquestionáveis e insubstituíveis. Seus personagens também são extremamente importantes, e aquela cena da última conversa entre Peter e seu Tio, no carro, que eventualmente leva à clássica “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”, antes de sua morte é realmente tocante, de modo que o eventual assassinado de Ben é emocionante e triste e a subsequente cena de perseguição de Peter ao assassino é recheada de suspense e é muito efetiva.
            
Por fim, J. K. Simmons como J. Jonah Jameson... nunca vai existir nesse mundo uma escolha melhor que essa.



            
Há alguns momentos genuínos do personagem que o Homem-Aranha é. Uma das maiores reclamações dos fãs a respeito do personagem nessa trilogia de Sam Raimi é que o herói não era o “smart-ass”, o engraçadinho das HQs. Há um bom equilíbrio, na verdade. Esses momentos estão definitivamente lá, como na luta com o Bone Saw (Randy Poffo) em que ele diz “That’s a cute outfit, did your husband give it to you?”, ou no ataque do Duende ao Clarim Diário, onde o Aranha cala a boca de J. J. com “Hey kiddo, let mom and dad talk for a minute, will ya?”. O herói definitivamente é “engraçadinho”, mas não chega a ser um babaca, algo que poderia acontecer se as piadinhas fossem mais frequentes.
            
A sequência em que Peter descobre experimenta seus poderes pela primeira vez também é incrível. Não só o momento em que ele escala um prédio (que foi feito de verdade. Aquilo, na verdade, é um set construído “deitado”), mas também quando ele está tentando descobrir como soltar suas teias. SHAZAM!



            
Outra marca de Sam Raimi se apresenta na cena final. Brutal, ela é bastante sombria, mudando o tom do filme justamente na hora certa, para se compactuar com o peso do enredo naquele momento. Os cortes, as posições das câmeras, o realismo e principalmente a sensação de crueldade e crueza. É o fato de que, mesmo se permitindo ser divertido e amigável, o filme nunca tem medo de ficar violento se necessário.

A trilha sonora de Danny Elfman é extremamente bonita e empolgante, facilmente a melhor e mais icônica de todos os filmes, superior até a de Hans Zimmer (algo que acontece também nos filmes do Batman).
            
Os efeitos especiais gerados por computador, por outro lado, não envelheceram muito bem, mas definitivamente cumpriram seu trabalho na época e renderam uma das indicações do filme ao Oscar.
            
Além disso, existem alguns outros problemas, principalmente de eventos que poderiam ter sido explorados um pouco melhor, como a mudança física de Peter. A reação dele é “ué, estranho”. Fim.
            
Ainda assim, Homem-Aranha conseguiu trazer a sensação dos quadrinhos aos cinemas de forma primorosa. Um filme que sabe ser divertido ou sério quando precisa, guiado pela habilidosa mão de Sam Raimi e por um incrível elenco. Até hoje, 14 anos depois, ainda é uma ótima adaptação do personagem. Uma das melhores.



AVALIAÇÃO: 4/5
"Ótimo"

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