sábado, 5 de setembro de 2015

Narcos | Mas quem diria, hein Wagner Moura? (Crítica: Season 1)



Quando foi anunciado por aí que a Netflix estava preparando mais uma série original, eu já fiquei empolgadíssimo. Mas quando foi dito que ela iria reunir mais uma vez Wagner Moura e José Padilha pra formarem novamente aquela já lendária parceria, eu entre em êxtase, antes mesmo de ver o produto final, confiando que, com os dois juntos novamente, assim como na dupla Tropa de Elite, a coisa seria, no mínimo, ótima.

Narcos — a tal nova série — é baseada em fatos e trata da ascensão e queda do maior traficante de drogas da história, Pablo Escobar (Wagner Moura). Aparentemente, nas décadas de '70 e '80 (época do estouro mundial da cocaína), Escobar se tornou um dos homens mais ricos do mundo, angariando bilhões de dólares com o trafico de tal droga. Bilhões de dólares ao ano era o que esse maluco ganhava com o tráfico. Bilhões.

Em sua síntese, Narcos trata da vida de Escobar como um "barão das drogas", mas há mais do que isso aqui. A série, ao longo de seus 10 episódios, é constantemente narrada em off pelo agente americano da DEA (Drug Enforcement Administration, algo como Agência Antidrogas) Steve Murphy (Boyd Holbrook), que foi enviado à Colômbia para ajudar a desmantelar o Cartel de Medellín e capturar Escobar pouco depois que a cocaína traficada por Pablo começou a chegar aos Estados Unidos. De pronto, o agente aceita a missão e viaja com sua esposa para cumpri-la, muito motivado pela morte de seu parceiro durante uma ação armada contra o tráfico de cocaína nos EUA.




Por ser baseada em fatos, Narcos tem, sim, bastante semelhanças com o que realmente aconteceu, embora a série deixe bem claro que toma suas próprias liberdades. Pablo Escobar, o centro de toda a trama, traficante extremamente violento e, ao mesmo tempo, um grande empresário e brilhante estrategista, foi um dos principais responsáveis pela entrada da cocaína nos EUA e, sob sua tutela e estrita política de plata o plumo (literalmente: grana ou chumbo, ou seja, ou você tomava a propina ou tomava tiro), o Cartel de Medellín manejou um grandioso esquema de produção e exportação e, portanto, prosperou: no final da década de '70 e início da de '80, o cartel era o principal responsável pelo tráfico de cocaína em países como Colômbia, Bolívia, Peru, Honduras, Estados Unidos, bem como no Canadá e na Europa. Estima-se que eram responsáveis por cerca de 80% da cocaína do mundo todo e faziam algo em torno de MEIO BILHÃO DE DÓLARES POR SEMANA. Com essa organização sob sua "asa", Pablo se tornou o sétimo homem mais rico do mundo na década de '80, de acordo com a Forbes (embora seja possível que ele tenha sido muito mais rico do que isso).

Pra você ter uma ideia do legado deixado pelo império de Escobar, na época ele se tornou o homem mais procurado do mundo e os EUA queriam tanto sua cabeça que a tinham ofertado em US$ 6 milhões para qualquer um que a capturasse, até porque o cara foi o responsável pela cocaína começar a circular na Terra do Tio Sam e foi o mandante de cerca de 5 mil assassinatos.

Narcos, muito provavelmente por ser produzida e ter dois episódios dirigidos por José Padilha, tem muitas semelhanças com Tropa de Elite. Além de sua narração em off, aqui feita pelo agente Steve Murphy ao invés do Capitão Nascimento, é muito claro que Padilha teve muito mais liberdade aqui do que no reboot de RoboCop, por exemplo. E isso se mostra pelo (ótimo) trabalho com as câmeras, caracteristicamente firmada na mão do operador para dar aquele ar de imprevisibilidade, e também pela (belíssima) direção de fotografia, que fica a cargo de Lula Carvalho (que foi parceiro de Padilha nos dois filmes do BOPE). E não só isso, como também a violência desmedida, inimigos além do palpável e personalidades ambíguas, ao invés de idealizadas.




Tendo a mão de Padilha no começo da temporada, a primeira metade de Narcos é bastante sólida e tem ares de superprodução fictícia com elementos puxados da vida real. O problema é que, depois de seu quinto episódio, os papéis trocam e Narcos passa a parece mais um documentário com leves pitacos de ficção. Com isso, a série perde seu ritmo e basicamente todos os personagens ficam em segundo plano. Steve Murphy e seu novo parceiro, Javier Peña (Pedro Pascal), por exemplo, são introduzidos ao público de maneiras maravilhosas, mas quase que completamente esquecidos por boa parte da segunda metade.

Entretanto, munida de um elenco invejável, composto, principalmente, por Wagner Moura, Pedro Pascal e Boyd Holbrook (tem também mais um brasileiro: André Mattos, que também apareceu em Tropa de Elite 2), Narcos consegue se manter de pé. Suas atuações são sem precedentes. Mas, mesmo com as ótimas e críveis performances de Boyd Holbrook e Pedro Pascal, todos os holofotes são focados no brilhante e temível Pablo Escobar de Wagner Moura, ator que aqui está quase irreconhecível pra quem está familiarizado com seu personagem mais popular, um certo capitão de uma tropa de elite brasileira. 




Gordo, com um bigodinho sem-vergonha e uma cara de louco absurda, Moura entrega essa que, provavelmente, é a melhor performance de sua carreira. O Pablo Escobar de Narcos é fascinante. Ora carinhoso, ora explosivo, ora amoroso pai de família, ora perigoso criminoso e assassino, dá até pra acreditar que Wagner Moura é mesmo colombiano, mas o certo é que ele está tão a vontade quanto quando vestiu a farda preta e a boina.

Fechando o time de brasileiros na produção, além de José Padilha, Lula Carvalho, Wagner Moura e André Mattos, temos também Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos, cantando a música de abertura "Tuyo", composta por outro brasileiro da lista, Pedro Bromfman, que é o responsável, inclusive, por toda a ótima trilha sonora. Por fim, há também Fernando Coimbra, diretor dos episódios sete e oito.

Um dos maiores méritos de Narcos, mas que pode passar despercebido pelo público daqui, é que muito mais da metade dos diálogos da série são em espanhol, e isso garante um realismo inigualável, mesmo que os americanos acabem tendo que ler umas legendas.

Narcos é mais uma ótima produção da Netflix e, com certeza, entretém bastante. Inigualável em sua primeira metade, a série se sustenta muito bem mesmo com seus deslizes e vacilos a partir do quinto episódio. Com atuações fantásticas e uma direção firme de diversos diretores diferentes, Narcos parece ser uma junção de ambos os Tropa de Elite, embora, infelizmente, incline-se mais para o lado do primeiro. 

De qualquer maneira, você tem que assistir Narcos.


AVALIAÇÃO: 4.5/5
"Excelente"

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