segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Espadachim de Carvão, de Affonso Solano — Resenha



Autor: Affonso Solano
Editora: Fantasy/Casa da Palavra
Gênero: Fantasia, Medieval
255 páginas


O Espadachim de Carvão


O Espadachim de Carvão é um livro de fantasia medieval escrito pelo brasileiro Affonso Solano (sim, ele mesmo! Aquele que é muito conhecido principalmente pelos nerds brasileiros por criar o famoso Matando Robôs Gigantes, ou MRG) e é o primeiro de uma série (cujo número de livros ainda não está definido), com o segundo livro previsto para ser lançado no segundo semestre de 2014, tendo sido publicado pela primeira vez no ano de 2013 pela editora Fantasy/Casa da Palavra (da LeYa Brasil). É o livro de estreia do autor.

A trama


Sinopse:

"Kurgala é um mundo abandonado por Quatro Deuses. Adapak é filho de um deles. E agora ele está sendo caçado. 
Perseguido por um misterioso grupo de assassinos, o jovem de pele cor de carvão se vê obrigado a deixar a ilha sagrada onde cresceu e a desbravar um mundo hostil e repleto de criaturas exóticas. 
Munido de uma sabedoria ímpar, mas dotado de uma inocência rara, ele agora precisará colocar em prática todo o conhecimento que adquiriu em seu isolamento para descobrir quem são seus inimigos. Mesmo que isso possa comprometer alguns dos segredos mais antigos de Kurgala."


A trama de "O Espadachim de Carvão" nos apresenta ao mundo fantástico de Kurgala, uma terra criada pelos "Quatro que são um", os Quatro Grandes Deuses que criaram Kurgala e suas diversas espécies. Em meio a todo esse mundo, nós somos apresentados a Adapak, o jovem filho de um desses Deuses e, graças à sua "linhagem divina", ele é um ser único dentre todas as várias espécies dos quatro continentes de Kurgala: sua pele é completamente negra como carvão (daí o nome), não tem pelos no corpo (inclusive cabelos), seus olhos são brancos e ele não possui unhas, nariz ou orelhas, apenas orifícios para esses dois últimos.

Adapak cresceu isolado do resto do mundo e tento pouquíssimo contato com as outras espécies em uma caverna numa ilha sagrada protegido por seu pai. Todo o conhecimento que o jovem tem sobre Kurgala e as raças que nela vivem foi adquirido basicamente através dos livros.

Criatividade, genialidade e simplicidade, tudo num livro só


"O Espadachim de Carvão" é uma obra rara. A obra conta uma mitologia única e extensa (que o próprio Affonso diz que foram necessários 10 fucking anos para que ela fosse idealizada), num mundo completamente novo e vasto. Pra você ter uma ideia, existem diversas raças sapientes que povoam Kurgala e várias espécies únicas de animais selvagens (te desafio a encontrar uma só que exista no mundo real). Até mesmo o modo de se contar anos é diferente (aqui são contados em ciclos) e até unidades de medidas (nada de metros por aqui), dentre outras. Kurgala é um mundo criativo e genial que vai deixar o leitor de queixo caído.

Outra genialidade do autor, por assim dizer, foi o modo como ele resolveu abordar a história. Ao passo em que Adapak conhece novas criaturas, visita novos lugares ou presencia novos acontecimentos, nós vamos aprendendo com ele! Até mesmo o mapa do mundo de Kurgala não se encontra nesse primeiro livro, de modo que nós vamos conhecendo o mundo junto com o personagem. Já no segundo livro, o mapa estará presente, reforçando a ideia de "aprendizado" com o passar das páginas.

O modo como o autor desenvolveu os personagens, tanto coadjuvantes como o próprio Adapak é fenomenal. Com destaque para Adapak que é, cuja própria sinopse do livro diz, dotado de uma inocência rara. Tudo que ele aprendeu sobre Kurgala foi através dos livros e, quando ele finalmente deixa sua moradia, o que ele se depara é completamente diferente. É aqui que Adapak tem um "choque de realidade", ao ter que lidar com um mundo que é muito mais mal e perverso do que seus livros podiam contar. Ele encara triste e horrorizado guerras sem sentido, preconceitos e a natureza dos mortais e o modo como ele vai amadurecendo com o virar de páginas só nos deixa ainda mais envolvidos. Ponto pro Solano!

A simplicidade fica por conta da narrativa, que não é nem um pouco difícil de acompanhar e entender. Com descrições na medida certa e sem muito prolongamento de cenas desnecessárias, a leitura de "O Espadachim de Carvão" flui lindamente.

A construção do livro é simples mas eficaz. Com páginas amareladas, orelhas e acabamento em brochura, o livro é bonito. Com destaque para a arte da capa, que é bem bonita e cuja cena é identificável facilmente pelo leitor depois de ler o livro.

Vale a pena?


Com toda a certeza. "O Espadachim de Carvão" é uma obra única de fantasia e enche qualquer brasileiro do orgulho só pela sua nacionalidade. É um prato cheio para os nerds amantes da fantasia medieval e uma ótima porta de entrada para quem quer conhecer o estilo. Com uma narrativa simples e fluida, a obra tem só um "problema": não durar mais. Você tem que ler "O Espadachim de Carvão".


Algumas (longas) citações: 

"— Esses Círculos são como se fossem uma “luta”, então?
— Hmm… Mais ou menos – ele respondeu, torcendo os lábios. – Telalec não gosta de chamá-los assim. Ele diz que “amadores 'lutam', profissionais ‘resolvem'"." T'arish e Adapak, página 26.

"(...) — Sim, mas insetos não têm consciência. 
 — Ah, exatamente... — falou Telalec, começando a caminhar pela margem da tapeçaria. — Eles não possuem consciência, mas também são deficientes de outra coisa que nós temos em abundância.
 — O quê?
Ganância — ele falou, tocando o coto esquerdo na têmpora. — Os formaggu interrompem o ataque uma vez que tenham o suficiente. Nós, não. Nós queremos mais. Sempre."Adapak e Telalec, página 105.

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