terça-feira, 7 de outubro de 2014

Middle-Earth: Shadow of Mordor - A Terra-Média nunca foi tão sombria e divertida num jogo. (Análise)



Eu sempre gostei de ver e acompanhar histórias fantásticas. Na verdade eu acho que todos da equipe partilham do mesmo gosto, até porque, caso o contrário, esse blog não existiria. Dentre essas histórias fantásticas, uma que se sobressai é, inevitavelmente, o universo de John Ronald Reuel Tolkien, o J.R.R. Tolkien que todos conhecemos. Sim, estou falando da Terra-Média e tudo que se passa por lá.

O Senhor dos Anéis, principalmente (sim, estou ciente d'O Silmarilion, O Hobbit, Filhos de Húrin, Contos Inacabados, etc), é, sem dúvidas, o maior sucesso do escritor, que não só rendeu alguns dos melhores livros da história como foi portado com sucesso absoluto para o cinema nas mãos de Peter Jackson. Por fim, como qualquer "sucesso que preste", o universo de Tolkien não escapou das adaptações para os games. Jogos que vão desde RPGs por turno aos mais intensos hack n' slashes, nem sempre a ideia de Tolkien era manejada com perfeição e muitas das vezes víamos mais aberrações do que obras de arte nas prateleiras. Eu tenho que revelar que Tolkien nunca me conquistou pelos jogos como "The Lord of The Rings: Conquest", "War In The North" ou o MOBA "Guardians of Middle-Earth" e, com exceção de LEGO Lord of The Rings, nunca me diverti com um jogo do universo. Mas tudo isso mudou quando o game que dá título à essa matéria chegou às minhas mãos.

Quando Middle-Earth: Shadow of Mordor foi anunciado, eu confesso que não dei muita bola. "Como assim um jogo que se passa na Terra-Média e não se chama O Senhor dos Anéis" era a pergunta que não queria calar, e as justificativas dos produtores não colava. Mas tudo piorou ainda mais quando eu vi o primeiro gameplay. Shadow of Mordor parecia ser nada além de uma cópia descarada do código de Assassin's Creed. E foi aí que eu, felizmente, me enganei. O jogo vai além disso. Alias, o jogo vai muito além disso.




Quando se trata de enredo, principalmente considerando tamanha genialidade com que Tolkien criou os de seus livros, Shadow of Mordor não tem o dos mais inspiradores, ao menos não no começo. Cronologicamente, o game se passa em algum momento entre O Hobbit e O Senhor dos Anéis e essa conclusão pode ser tirada a partir de fatos como Gollum já ter perdido o Um Anel para Bilbo, mas Sauron ainda não enviou os Nazgul em busca do artefato, ou seja, a jornada de Frodo ainda não começou.

No início, nós somos apresentados aos rangers de Gondor (ou também "guardiões", como ficaram conhecidos aqui no Brasil), que são responsáveis por vigiar o Portão Negro de Mordor em busca de acontecimentos que evidenciem a volta do Senhor do Escuro e suas forças, além de lidar com quaisquer problemas que possam serem causados pelos orcs que restaram desde a guerra. A trama é centrada, primariamente, em Talion (que lembra Aragorn em certos momentos), um ranger que vive com sua Ioreth, sua mulher, e Dirhael, seu filho, onde um dia as forças de Sauron reinavam.

Até que o Portão é atacado por orcs e pelas forças do Senhor de Mordor, que assassinam a mulher e o filho em frente aos olhos de Talion, pouco antes dele próprio ser morto pela Mão Negra, um dos Capitães Negros (além da Mão Negra/Black Hand, temos a Marreta/The Hammer, a Torre/The Tower e a Boca/The Mouth. Lembrando que a Boca não aparece nos jogos mas ainda é citado nos livros de O Senhor dos Anéis e visto na versão estendida do terceiro filme, O Retorno do Rei), servos mais fiéis de Sauron e os principais vilões do jogo.

Pouco tempo depois, Talion é ressuscitado por Celebrimbor. Sim, você sabe quem ele é e, caso não saiba: Celebrimbor foi um nobre elfo que foi morto séculos antes de Talion. Ele é conhecido por ser ninguém mais, ninguém menos do que o criador dos Nove Anéis do Poder, dados aos homens (...e chega de falar disso, sem spoilers por aqui). Fato é: Celebrimbor foi morto em circunstâncias semelhantes às de Talion. Agora ambos estão presos à Mordor e buscam vingança contra Sauron e os Capitães Negros, além de procurar respostas sobre o porquê de estarem ligados um ao outro.




Muito da história é contado através de flashbacks, mas, em suma, não deixa de ser um tanto clichê: Mulher e filho assassinados geram um espírito de vingança implacável no protagonista.

Uma coisa bacana foi adicionar alguns elementos dos livros — além do óbvio universo —, como Gollum, à trama do jogo, algo que não compromete a integridade dos livros.

Nós controlamos tanto Talion como Celebrimbor, porém ambos têm suas habilidades específicas: Talion é o "tank" do jogo, ele que parte para cima dos inimigos, com espada em punho, ou se utiliza de táticas de stealth para eliminar os inimigos em silêncio, enquanto Celebrimbor pode controlar e acessar a mente dos inimigos, e perambular pelo mundo dos espíritos — aquele que vemos quando Frodo usa o Um —, além de utilizar um arco e suas habilidades "elfísticas" para eliminar inimigos ao longe.

Mesmo sendo um RPG de ação, não há outras armas fora as padrões dos personagens — espada, arco e adaga — nem armaduras, mas as armas podem ser reforçadas com runas, que aumentam seus poderes e/ou dão habilidades específicas, além de existirem duas arvores de habilidades — uma para Talion e uma para Celebrimbor — que incrementam bastante à jogabilidade, como execuções em plena batalha quando seu número de hits atingir "x" ou controlar a mente dos inimigos. Há também a melhora de atributos, como aumento de vida, número de flechas, duração do foco (habilidade que diminui a velocidade do jogo por tempo limitado para facilitar o uso do arco, como um bullet-time), etc, que podem ser obtidos através do uso de mirians, a moeda do jogo que, por sua vez, é obtida principalmente através da realização de missões secundárias.




Shadow of Mordor não consegue fugir de comparações: a movimentação — seja andando ou correndo pelo cenário, ou escalando torres e até saltando de lugares altos — é idêntica a de Assassin's Creed. Já o sistema de combate, onde é necessário apertar o botão certo no momento em que o inimigo atacar para bloquear o ataque e contra-atacar lembra a série de jogos Arkham, do Batman.

Mas, sem sombra de dúvidas, a maior inovação do jogo é o sistema hierárquico no exército dos orcs — ou no caso, os Uruk-hai — de Sauron. Chamado de Nemesis System, a funcionalidade é um tanto complexa, mas genial:

Através das habilidades de Celebrimbor, é possível ler a mente dos uruks para descobrir como está disposta a linha de frente do exército de Mordor, com todos os capitães daquela região, além de suas localizações, resistências e vulnerabilidades, etc. Quando um uruk te mata, ele sobe de patente no exército, aumentando seu poder e sua influência. Há também "eventos" entre os próprios capitães, como duelos, baquetes, caçada à algum animal selvagem ou emboscadas entre os próprios, etc que, caso bem- sucedidos, os uruk também aumentam sua influência, seu poder e sobem de patentes. Quanto mais tempo passa sem você eliminá-los, ou quanto mais vezes você morre para eles, mais fortes ele vão se tornando, se adaptando aos seus ataques e lhe forçando a buscar outras alternativas para derrotá-los. E as vezes, mesmo quando você pensa ter matado um deles, ele volta, mais forte e furioso, com direito a cicatrizes e curativos (lê-se curativos à moda orc, ou seja: de placas de ferro pra cima) da última batalha contra você. Já no outro cenário, ou seja, caso você seja morto por algum uruk, na próxima vez que vocês se reencontrarem, ele se perguntará coisas como "Isso é alguma brincadeira? Eu já matei você antes!" e afins. Além disso, conforme você progride no jogo, você pode dominar a mente de diversos orcs e fazê-los lutar contra seus inimigos pra você, como mandar algum uruk em uma missão de assassinato improvisada ou algo do tipo, além de muito mais. Foda ou foda?




E, já não saímos de Mordor, há também a fauna do local. Além dos orcs, podemos encontrar animais selvagens como os caragors, graughs e etc, todos com direito à uma breve descrição no Apêndice do jogo, assim como personagens, elementos da história, lugares, etc.

Graficamente, o jogo é orgásmico. Mordor foi retratada com fidelidade ao que já conhecemos. Terras pedregosas, vulcânicas e devastadas, com campos de mineração e escravos só aderem à ambientação. Há algumas colinas verdejantes aqui e acolá — o que, confesso, me incomodou de início até porque: "Porra! É Mordor!" — que parecem servirem principalmente para mostrar o poderio gráfico do jogo. Os efeitos de iluminação, as texturas do ambiente, das roupas, a modelagem dos personagens, os detalhes das cicatrizes dos orcs, de Talion, dos animais, quando você arranca a cabeça de um uruk (sim), é tudo muito lindo!

O mundo de Shadow of Mordor não é mundo grande, se comparado à outros RPGs da atualidade como The Elder Scrolls V ou até mesmo um GTA V. O mapa do jogo funciona bastante ao estilo de Assassin's Creed, dividido em áreas, mas ainda sim é vasto o suficiente e repleto de missões secundárias, colecionáveis e segredos que revelam mais sobre o passado dos dois personagens.




Por fim, a parte sonora do game também é impecável. A dublagem convence e as vozes escolhidas casam perfeitamente com os personagens. Os orcs tem, naturalmente, uma voz mais grossa e uma dicção bem mais pobre e vivem xingando uns aos outros, além de agirem sempre da maneira orc de ser: "Se os animais podem comer os escravos, por que nós também não podemos?" ou "O capitão saiu por um tempo, o que podemos fazer sem ser pegos? Vamos matar alguém!" são alguns dos diálogos que podem ser ouvidos nas conversas entre eles mesmos ou "Você?! Então já posso começar a te torturar e te fazer sangrar?" quando eles estão falando com você, entre outros. A versão brasileira do jogo vem localizada, com legendas e dublagem em português do Brasil e eu não tive muito contato com ela, já que joguei o game completo no áudio original, mas o pouco que vi sugere que o trabalho de dublagem também foi bem feito.

Ainda não temos um sistema de notas no blog, portanto não vão ver nota nenhuma por aqui. Mas, Middle-Earth: Shadow of Mordor é um jogo não menos do que excelente. Ele não é perfeito, principalmente quando se trata do enredo e da dificuldade, que em soma, não é muito alta — o jogo não é difícil — e o jogo deve agradar, além dos fãs do trabalho de Tolkien, aqueles que curtem um bom RPG ou um bom jogo de ação. Shadow of Mordor é a surpresa do ano, sem dúvidas.


AVALIAÇÃO: 4/5
"Ótimo"


0 comentários:

Postar um comentário