terça-feira, 14 de outubro de 2014

Alien: Isolation - No espaço ninguém pode ouvir você gritar (Análise)



Quando Alien: Isolation foi anunciado, eu confesso que não dei a mínima (e essa atitude parece que vem acontecendo com bastante frequência ultimamente, mas felizmente eu sou surpreendido). O jogo prometia o paraíso para os fãs da franquia de filmes criada por Ridley Scott mas alguma coisa tinha de estar errada, até porque foi o mesmo que a SEGA junto da Gearbox fizeram com Aliens: Colonial Marines e, como vimos, o jogo foi um completo fracasso. Por essa e outras eu estava muito descrente com um possível jogo de qualidade que abordasse o universo criado pro Scott e passasse a mesma sensação do primeiro filme: Alien: O 8° Passageiro, de 1979.

Todos no mundo já, ao menos, ouviram falar do Alien, esse que é um simbolo consagrado da cultura pop no mundo e inspirou dezenas e dezenas de outras produções, sejam elas filmes, jogos, séries ou livros.

Alien: Isolation foi desenvolvido pela Creative Assembly e distribuído pela SEGA para Xbox One, Xbox 360, PS3, PS4 e PC e, diferentemente dos últimos jogos que exploram esse universo (e suas variações) como Aliens VS Predator ou Aliens: Colonial Marines, Isolation se foca no terror com sobrevivência, ou seja, o bom e velho Survival Horror.


Seu pesadelo


Algumas das coisas que as empresas vieram fazendo ultimamente são jogos que te passam a experiência de matar um alien, mas raramente há aqueles jogos que te passam o inverso: a experiência de ser morto por um alien. Alien: Isolation se foca justamente nisso.

No game, que se passa entre o primeiro e o segundo filme da franquia Alien, nós estamos no controle de Amanda Ripley, filha da icônica Ellen Ripley (protagonista dos filmes). Uma coisa bastante bacana é que Amanda não foi criada do nada e já existia no universo dos filmes, coisa que só os detentores das edições estendidas do segundo filme (Aliens: O Resgate, dirigido por James Cameron) puderam saber sobre ela. Nessas cenas, ficamos sabendo que, entre os eventos de Alien 1 e 2, Amanda viveu uma vida normal e morreu, sem nunca ver sua mãe novamente.

Acontece que, como Isolation nos mostra, Amanda não viveu uma vida tão normal assim e houve um período meio tenso. Esse período é justamente a leva de acontecimentos do jogo.


Amanda Ripley


O game se passa 15 anos depois do primeiro filme e 42 anos antes da sequência. Amanda trabalha como engenheira para a Weyland-Yutani (aquela companhia extremamente filha da puta rica que era dona da Nostromo, a nave em que Ellen estava). Amanda é contactada por Samuels, funcionário da Weyland-Yutani, que afirmava que a caixa-preta da Nostromo havia sido encontrada e estava sendo mantida segura numa estação espacial chamada Sevastopol. Samuels então convida Amanda para ir ajudá-lo em um trabalho nessa estação que está passando por alguns problemas de energia e Amanda, sem pensar duas vezes, aceita a proposta, na esperança de encontrar algo que indique o paradeiro de sua mãe. Chegando na estação e sem receber respostas, Amanda, Samuels e Taylor, outra funcionária da WY, resolvem subir abordo mesmo assim quando uma explosão acontece e Amanda é separada do grupo, apenas para descobrir que Sevastopol está em estado de alerta, completamente destruída e que pessoas estão morrendo por algo que espreita nas sombras, e é aí que a merda acontece.

Quando se trata de enredo, o jogo acerta muito bem, principalmente na ideia de pegar uma personagem já existente no universo dos filmes e desenvolvê-la a partir daí. Muito bacana. E, sobre o que aconteceu em Sevastopol, o jogo explica através de terminais (que também servem para outras coisas) com mensagens de texto, de áudio e até em gravadores de áudio também. O grande problema é que acessar um terminal não te deixa a salvo dos perigos ao redor, então prestar atenção na história pode ser um pouco complicado.

O tempo de jogo pode variar, mas com certeza é superior à 15 horas. Pessoas como eu, que passam a maior parte do tempo se escondendo quando ouve qualquer barulho vão chegar fácil nas 20 horas. No meu caso, demorei em torno de 25 horas pra terminar o game.


Sevastopol


A jogabilidade é fluída e muito boa. Você pode andar em pé (e isso não é recomendado) ou agachado, correr (e isso nunca é recomendado), atacar, atirar, subir e descer escadas, criar distrações, se esgueirar por tubos de ventilação, se esconder em todos os lugares possíveis como debaixo de mesas e dentro de armários, etc. Você ainda pode hackear computadores e painéis eletrônicos e, enquanto realiza essas ações, você ainda pode morrer. No game você não pode pular, o que pode frustrar algumas pessoas devido à situações ridículas como ter a passagem impedida por um obstáculo de meio metro, te forçando a dar a volta. Felizmente, isso só acontece uma vez! :D

Alien: Isolation é um jogo que começa lento, devagar, quase parando, assim como o primeiro filme, só pra depois de jogar em horas e horas de forte tensão. Quando o alien aparecer, você já pode se preparar para passar HORAS — sim, eu disse HORAS — se escondendo e esperando o perigo ir embora para prosseguir. 

O alien não é a única ameaça na estação. Você ainda terá de se preocupar com outras pessoas e os androides da instalação que tiveram seus circuitos corrompidos e agora se tornaram uma ameaça. Lidar com esses três é um problema, os humanos estão sempre armados, são espertos e ágeis, mas fáceis de matar, os androides não são tão espertos, são lentos e estão sempre desarmados, mas são resistentes e muitas vezes mortais, principalmente se te agarrarem. Por fim, o alien é esperto, rápido, não pode ser morto e, se ele te ver, só há uma certeza: você vai morrer.

E, já que entramos nesse assunto de morrer, fique certo de que você vai morrer. Muitas vezes. Muito mais vezes do que você pode contar:


Você vai morrer quando estiver se escondendo debaixo de uma mesa. (Gif por: Kotaku)

Você vai morrer quando estiver se escondendo dentro de um armário. (Gif por: Kotaku)

Você vai morrer quando tentar fugir. (Gif por: Kotaku)

Entre outras muitas vezes...

Alias, isso já nos leva a argumentar sobre a dificuldade do jogo. Alien: Isolation não é muito difícil se você estiver acostumado aos jogos da velha guarda, caso o contrário, sim, você vai penar pra terminá-lo. O game utiliza o sistema de salvamento manual em estações específicas que são bem distantes umas das outras e não há checkpoints, além de seu HP só se regenerar com kits médicos, mesmo que você "avance de fase" ou morra. Somando isso à possibilidade de morrer enquanto estiver indefeso olhando um terminal ou salvando o seu jogo, ou seja, você nunca está a salvo, a dificuldade pode ser considerada alta. Mas, novamente, isso é relativo e depende do jogador.

A inteligência artificial, em geral, é muito boa, seja ela dos humanos ou dos androides. Eles vão chegar qualquer barulho, qualquer coisa. Entretanto, a inteligência dos humanos pode, eventualmente, bugar e você pode vê-los parados, olhando pro nada, ou girando em círculos, ou até mesmo correndo de um lado para o outro, sem direção, quando o alien aparece.

Mas a inteligência artificial do alien é a que merece maior destaque. Ele vai andar pelos tubos de ventilação e pelos corredores, procurando você ou outros humanos. Ele vai checar qualquer barulho. Não importa onde você esteja em Sevastopol, se você fizer muito barulho, seja correndo, atirando ou criando alguma distração para outra situação completamente diferente, ele pode e vai ouvir e então vai checar. Em determinado momento da campanha, a personagem encontra um detector de movimento — já clássico no universo de Alien. Esse detector, quando ativado pelo jogador, apita caso haja movimento nas proximidades e esse apito pode ser ouvido pelo alien. Se você se esconder em um armário e o alien estiver por perto, você vai ser obrigado a prender sua respiração, caso contrário, ele vai te encontrar. A luz da tela do detector, do lança-chamas ou da molotov também vai revelar sua posição. O alien pode ser afugentado por pouco tempo com fogo, mas isso o deixará mais agressivo e, quando ele voltar, sua precaução vai estar dobrada e ele vai te procurar em todos os lugares. Ele se esconde esperando você aparecer para dar o bote e entre outras coisas.




Por fim, ainda vale dizer que a inteligência do alien é adaptável e ele raramente vai repetir suas ações quando você jogar novamente alguma fase. Se ele te ver entrando em um armário, primeiro você vai morrer. Na próxima vez, ele vai checar os armário à sua procura. E, vale ressaltar também que a versão de Xbox One usa o microfone do Kinect no jogo, ou seja, falar ou gritar de verdade vai atraí-lo também.

Graficamente, no caso de texturas e modelagem de personagens, o jogo é bom mas não tem nada de especial. Já na iluminação houve um cuidado muito alto. O jogo é absurdamente escuro, mas a iluminação é muito bem trabalhada e pode afetar o gameplay, como a lanterna (que tem bateria limitada e te força a procurar por pilhas, além de atrair atenção), os sinalizadores, o fogo, a tela do detector de movimento, tudo. O jogo apresenta cutscenes feitas em CGs e elas são as coisas mais bonitas do mundo. Perfeitamente renderizadas e a quantidade e qualidade de detalhes é impressionante.

A ambientação do jogo é perfeita. Detalhista ao extremo, a Sevastopol é idêntica à Nostromo do filme. Tudo foi retratado fielmente: as salas de reunião, os dormitórios, as salas de máquinas, objetos em cima das mesas, posição de botões na parede e até mesmo o clássico enfeite do pássaro de cartola está por aqui.

Na parte sonora, a equipe também está de parabéns. Os efeitos de som são muito bons e ajudam muito a passar a tensão do jogo.




O jogo está totalmente localizado, com legendas e áudio em português brasileiro, mas a dublagem é apenas boa, já que apresenta alguns problemas no volume. As vezes o personagem fala e som sai muito baixo, mais ou menos como acontecia na versão de PS3 de The Last of Us. Já a dublagem original é excelente.

A movimentação da Amanda é ótima, fluída e plástica, a do alien é igualmente bem feita, assim como a dos androides. Já a dos humanos é ruim e meio robótica.

Existe um modo de jogo chamado Survivor (Sobrevivente) que apresenta cenários únicos com objetivos definidos que você tem que realizar para no fim receber uma pontuação. E ainda existem duas DLCs para quem fez a pré-venda do game ou as comprou separadamente. Elas são:

  • Crew Expendable (Tripulação Descartável): Essa DLC te põe na Nostromo quando a tripulação descobre a existência do alien na nave. Você pode escolher entre controlar Ellen Ripley, Parker ou Dallas para encurralar o alien e expulsá-lo da nave, ou matá-lo.
  • Last Survivor (Última Sobrevivente): Essa DLC te põe no controle de Ellen Ripley nos momentos finais do primeiro filme em que ela tenta ativar o mecanismo de alto-destruição da Nostromo para então fugir e matar o alien.

Por fim, Alien: Isolation não é um jogo perfeito, mas é ainda sim é muito bom. Você vai passar a maior parte do tempo andando agachado, se escondendo dentro de armários ou debaixo de mesas e isso pode não agradar a todos. Existem alguns bugs, como o da inteligência artificial dos humanos e alguns problemas na interação com alguns objetos do cenário, além de alguns pop-in's gráficos e delays de renderização nos consoles. Muitos podem não gostar desse game em questão. Porém, se você gosta de jogos de stealth, jogos de terror com stealth ou então jogos de terror com stealth e ainda gosta de Alien, esse jogo é pra você.


AVALIAÇÃO: 4.5/5
"Excelente"


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